O Sal da terra.

  • Marcos Vieira
  • 18/11/2014 10:17
  • Gourmet & Gastronomia
Reprodução Internet
Sal usado moderadamente faz bem a saúde.
Sal usado moderadamente faz bem a saúde.

Ingrediente onipresente na culinária mundial, o sal é um importante tempero, e ao mesmo tempo, um vilão da vida moderna quando usado em excesso no preparo de refeições. Cloreto de sódio e íons, dois de seus principais componentes, são necessários para a sobrevivência de todos os seres vivos. O sal está envolvido na regulação da quantidade de água do organismo.

Ao longo da história da humanidade, esse mineral - o primeiro tempero da civilização - foi tão negociado que chegou a valer tanto quanto o ouro e deixou muitas nações em posição de riqueza e de domínio em relação a outros pelo seu poder de mercado, seu poder de negociação.

Quando o homem surgiu, não conhecia o sal, pois o suprimento diário de cloreto de sódio era obtido a partir da carne crua dos animais que caçavam. Ele sequer conhecia a importância disso em sua ingestão diária, em sua alimentação. Com o surgimento do fogo entretanto, tudo mudou.

Com o cozimento da carne perdia-se o sal naturalmente contido no alimento e aquele sabor, essencial à vida, causou estranhamento. O gosto não era o mesmo, a comida perdera a graça e esse gosto “salgado” precisava ser buscado em outro lugar. A crescente necessidade e preocupação do homem para manter os alimentos em bom estado levou-o a perceber que o uso do sal, era um excelente método. Começava neste momento, a busca pelo sal.

As primeiras minas descobertas, onde o sal era extraído, fizeram a riqueza de alguns povos antigos. O sal começou a ter uma importância vital desde muito cedo, contribuindo para o enriquecimento e o progresso das nações que o comercializavam. Como o sal era algo raro, ficou conhecido como “ouro branco” e levou nações a travarem guerras e conflitos.

Ao longo da história, o sal sempre teve um papel estratégico. Onde não havia sal, este era comercializado a peso de ouro, comparado a tal - grama de pó branco contra grama de metal dourado. O que levou o senador romano Cassiodoro (490 – 51), a observar: "Alguns não precisam de ouro, mas qual é o homem que não precisa de sal?”

Na Roma antiga, a principal via de transporte chamava-se Via Salaria (Estrada do Sal), por onde os soldados transportavam os carregamentos dos “cristais preciosos” para a cidade. Como pagamento por isso, eles recebiam o salarium, que significava "dinheiro para comprar sal". A expressão originou a palavra salário, usada até hoje. Curioso, não?

O mercador e explorador italiano Marco Pólo descreveu em suas anotações através das viagens pela China, a existência de moedas de sal cunhadas com o selo de Gengis Khan. A Etiópia até o início do século XX, usava discos de sal como moedas e em regiões da África central, era possível comprar uma noiva com um bom carregamento de sal.

Hebreus, gregos e romanos, costumavam salgar os sacrifícios oferecidos aos deuses. Os egípcios utilizavam a técnica de salgar suas múmias para preservá-las. Em alguns rituais está a origem de uma das superstições mais comuns da antiguidade: se o sal fosse derrubado na hora do sacrifício, isso prenunciava má sorte.

Na França, o povo foi obrigado a comprar sal diretamente dos armazéns do rei, que estipulava o preço de maneira arbitrária. A taxa do sal, conhecida como gabelle e foi fator decisivo para a revolta da população, que acabou extinta após o rei ter sido decapitado durante a Revolução Francesa.

Tão valioso, o sal ganhou um significado quase sagrado. Tornou-se sinônimo de espírito, graça, pureza, sabedoria e hospitalidade. Homero, poeta grego, chamou-o de "divino". Platão definiu-o como a "substância cara aos deuses". Jesus, conforme relato da Bíblia declarou: “Vós sois o sal da terra”. Os hebreus selavam seus acordos trocando sal. Os beduínos, na Arábia Saudita, não atacavam um homem cujo sal haviam partilhado alguma vez, em sinal de respeito.

Atualmente o sal ainda compõe um importante ingrediente nas cozinhas em todo mundo, sendo usada separadamente ou macerada com outros temperos e ervas para marinar carnes, molhos, churrascos ou simplesmente dar gosto à sopas cremes e todo e qualquer prato.

A flor de sal, tipo coletado nas camadas superiores das salinas antes de formarem o tradicional sal é a nova onda gourmet, e como mais difícil de ser coletada, um pouco mais cara, nas lojas especializadas, mas que tempera diretamente a carne ou a refeição já pronta antes de ser servida.

O uso do sal de cozinha, deve portanto, ser moderado e respeitados os valores diários de 05 mg para não acarretar problemas graves de saúde como a hipertensão e problemas cardíacos ou renais.