Mas afinal o que é Gastronomia?

Costumamos confundir essas expressões pela força com as quais são usadas diariamente, entretanto, cada uma tem o seu significado e cada uma delas com sua igual importância.

Cozinha e culinária são sinônimos e ambos estão inseridos dentro da gastronomia, mas a gastronomia compreende muito mais que isso. Culinária é o modo de preparo, os ingredientes, os utensílios que integram os pratos, os elementos que integram o ambiente na elaboração e preparação dos alimentos.

Podemos dizer assim que a culinária é uma mistura de cores, aromas e sabores acerca do que se torna alimento. É imprescindível associar a culinária como um elemento característico de uma sociedade. Comer e beber são hábitos antigos e universais, e através desses hábitos, podemos conhecer ou reconhecer os hábitos de uma região. Comer é assim, um ato social.

A gastronomia por sua vez vai além, ela engloba muitos outros elementos.

A gastronomia é o conhecimento que o homem adquire na medida que ele se alimenta, e reconhece os valores de sua comunidade, de seu povo naquela refeição. É um conjunto de valores que estão relacionados ao que, como e quando se come. Integram os elementos físicos e materiais de uma região, seu momento histórico ou social, as suas tradições, usos e costumes. E esses costumes ao serem absorvidos por outras comunidades não permanecem imutáveis, ao contrário, sofrem interferências, ganham novos elementos, novos saberes e assim por diante.

A alimentação por sua vez, é o conjunto de ingredientes naturais ou industrializados, a maneira como eles devem ou podem ser combinados, com a finalidade de uma vida mais saudável. Porém quando passamos a analisar esses alimentos por um prisma social, com suas tradições culturais e/ou religiosas, os conhecimentos empíricos ou técnicos sobre estes, aí nos remetemos à gastronomia.

Literalmente a expressão gastronomia significa “Leis do estômago”, pois vem do latim gaster = estômago e nomo = lei. O termo foi criado pelo viajante e poeta grego Arquestratus.

O legado que cada sociedade deixa através das referências culturais e que são traduzidas pela alimentação - seus ingredientes, seu preparo, modo de servir, em que épocas são servidos, recursos alimentares disponíveis, maneira de cozimento, tradição ancestral desse alimento é o que chamamos de gastronomia.

Nesse sentido a gastronomia se constitui de patrimônio de uma coletividade, como antropólogo e historiador potiguar Câmara Cascudo disse em sua obra História da Alimentação no Brasil, de 1867, que alimentar-se foi de todos os atos naturais, o único que o homem cercou de cerimônias e aos poucos foi se transformando como expressão de sociabilidade, de etiqueta, e nesse sentido nada mais justo do que transformar o ato de comer em ato de fraternidade, em ato de contato e de convivência entre os próximos.

A comida e a bebida podem e devem ser vistas mais do que alimentação, mas como objeto de identificação e afirmação de seu modo de ser, do seu ponto de vista de seu cotidiano.

Desta maneira, a gastronomia revela muito da nossa identidade, o que fomos, o que somos, como nos comportamos e como isso afeta o que está o nosso redor, uma vez que a gastronomia rompe a barreira do comer e coloca-se ao lado do homem/sociedade, para identificar nossas características, perspectivas e momentos histórico-social.