A violência, o plano de segurança e a paz em Alagoas
- Redação
- 24/06/2012 19:29
- Adalberon Júnior
Que Alagoas tem vivido tempos difíceis no quesito violência, disso todos já sabemos. O que muitas vezes nossa amnésia generalizada não nos permite acompanhar é o percurso que fora percorrido até chegarmos a estes números e a estas posições de "campeões" em violência e criminalidade. A comodidade é sempre mais tentadora do que encarar a verdade dos fatos. Os índices de homicídios e de criminalidade violenta em nosso estado vem aumentando de forma assustadora há pelo menos 10 anos e não somente nos anos deste governo, como ignorantes afirmam com tanta ênfase.
Qualquer observação feita com mais atenção ao números da violência no Brasil e em Alagoas, através do relatório denominado Mapa da Violência, por exemplo, dará conta que o crescimento da violência é um problema que não atinge somente o nosso estado, mas todo o país. Nenhum estado brasileiro tem índices de homicídios aceitáveis. Mesmo aqueles que experimentam redução de seus índices ainda estão longe da paz desejada.
Outra constatação possível ao analisarmos os números é a de que nos últimos anos houve uma interrupção nesse crescimento disparado que vínhamos assistindo. Chegamos a um crescimento de quase 300% dos índices e ali paramos. Esse é o problema. Paramos e estancamos a violência em um patamar inaceitável, índices de guerra civil. Por isso que cada vez menos nos sentimos seguros para fazer qualquer coisa, desde as mais simples, como sair de casa para trabalhar ou para um lazer. É essa sensação de insegurança que tem crescido em nós nos últimos meses, mais até que os números. Talvez isso se deva também ao fato de que esta mesma violência, há muito tempo presente nos bolsões de pobreza e miséria, nas favelas e grotas de nossas cidades, nos locais sob domínio do famigerado crack, bateu a porta dos nossos vizinhos e a nossa.
Agora aguardamos com grande expectativa pelo Plano de Segurança que deve ser anunciado na próxima quarta feira pelo Governador e pelo Ministro da Justiça. Temos depositado nossas esperanças neste plano, na certeza de que ele dará certo, até porque se propõe ser modelo para todo o país, reunindo as mais diversas experiências positivas, nos mais diferentes estados do Brasil, quando o assunto é segurança pública.
E o plano de fato deve surtir efeito. Pela integração de todos os atores, poderes, esferas e estratégias, marchando juntos rumo a mesma direção, com prazos e metas estabelecidas e monitoradas. O plano não se limita a resolver somente o problema deste momento, mas também não olha apenas para frente, sem considerar o caos atual. Ele é complexo e cheio de detalhes que o tornam robusto. Deverá devolver-nos um pouco da sensação de segurança que perdemos.
Mas não podemos depositar todas as nossas esperanças no plano. Precisamos olhar para aquilo que nós, em nossas limitações, em nosso dia a dia podemos fazer para tornar nosso estado um lugar melhor de se viver. E não estou falando aqui de fazer justiça com as próprias mãos.
Em nosso cotidiano precisamos identificar quais comportamentos podemos ir, aos poucos, modificando e transformando, a fim de nos tornarmos mais pacíficos. Fomos moldados de forma violenta em toda nossa vida e reproduzimos isso de forma quase natural e imperceptível. É preciso acreditar na paz, não naquela paz da pombinha branca, subjetiva e utópica, distante do mundo real. Mas é preciso acreditarmos e promovermos a paz nas nossas ações e atitudes diárias, na maneira como conduzimos nossas vidas, desde os atos mais simples, de como nos relacionamos com os da nossa casa, da nossa rua, do nosso prédio, do nosso trabalho, estudo, etc. A maneira, quase sempre violenta de como lidamos com nossas realidades de conflito precisa ser repensada e daí teremos isto sendo, aos poucos, reproduzido na vida social. Se esperarmos que a violência vá ser eliminada somente com a repressão, ainda que legitima, realizada pelo aparelho de polícia e de justiça, assumimos a condição de impotentes perante a cultura de violência que nos ronda e que nos trouxe até aqui. Desta forma, nos rendemos completamente a ela. Depositemos sim nossas esperanças na força coercitiva, no "braço forte" do estado que deve se manifestar nos próximos dias com a ações do plano, mas observemos também de que modo podemos ir mudando nossa forma de ver e lidar com o mundo e seus conflitos cotidianos, investindo em uma cultura de paz que passa sobretudo por nós e pelo nosso esforço, pela mudança no conjunto de nossos comportamentos. Porque se quisermos resolver o problema da violência em nossas terras com mais violência (ainda que legitimada pelas forças de polícia) chegaremos ao que alertava Gandhi quando exortava que "em terra de olho por olho, ficaremos todos cegos".
Porque amamos nosso estado e queremos vê-lo em condições melhores e em dias de paz, sejamos também nós, "fazedores" e promotores desta paz que desejamos. É preciso irmos para além dos protestos e gritos de pedidos por paz.
Afastemo-nos da cômoda posição de somente querer e esperar pela paz que "brotará" da ação de outros e assumamos a posição de protagonistas desta desejada paz em nosso lugar, nossa querida Alagoas.
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