De que paz Cavalcante está falando?

  • Redação
  • 22/04/2012 23:05
  • Adalberon Júnior
Internet
Ex coronel Cavalcante
Ex coronel Cavalcante

Uma entrevista, no mínimo curiosa, publicada no jornal Gazeta de Alagoas deste domingo (22) traz o ex coronel Manoel Cavalcante se apresentando como uma pessoa da paz desde que nasceu e afirmando que sempre trabalhou pela paz. As afirmações do ex coronel quanto a uma suposta diplomação como "agente formador da paz" me levam a um questionamento quanto ao "agente da paz" que ele diz ser desde que nasceu.


De que paz Cavalcante está falando? A paz enquanto conceito que muitos de nós temos. Para muitos, a paz é a ausência de violência apenas, por isso é tão comum ouvir afirmações de que temos um final de semana de paz quando temos menos homicídios ou que nossa cidade deixou de ser um lugar de paz porque cresceram os índices de violência, assaltos, assassinatos, etc. Entendemos a paz enquanto um momento no qual as pessoas não estejam "se matando".

Outro dia encontrei um outdoor em um determinado Estado que apresentava a imagem de alguns artistas vestidos de policiais com a frase: "Paz é a gente que traz!" numa alusão ao trabalho da polícia como promotora de paz. É disso que estou falando, desse entendimento de que a paz é fruto, somente, de uma boa repressão policial, de bandidos presos, presídios abarrotados, isto é paz, segundo essa ideia. Diante desse conceito, o ex oficial, temido e apresentado sempre como o mentor da "gangue fardada", autor intelectual de diversos crimes, não erra quando se diz uma pessoa que sempre trabalhou pela paz. Para pessoas que tem uma visão tão limitada do que é a paz, ele, bem como tantos outros, até mesmo o Coronel Amaral (aquele que defende que bandido bom é bandido morto) são verdadeiros promotores da paz.

Mas essa é a paz que queremos?
É essa a paz que o caro leitor espera?
Estaria certo o ex coronel em se dizer uma pessoa de paz? O que acham?

Ressalto que o papel da polícia e da justiça (repressão legítima) são fundamentais para conter uma situação de violência, mas não é somente essa a ação para se enfrentar a violência e se chegar a paz. Outras frentes como o desenvolvimento de políticas sociais e sobretudo ações de promoção de uma cultura e de um comportamento de paz são essenciais neste aspecto.

De parabéns o ex oficial pela iniciativa de participar desse tipo de atividade durante o seu período de detenção. Não comungo com aqueles que questionaram a atividade desenvolvida pela secretaria. Acredito e defendo que o Estado aproveite o tempo de prisão para desenvolver ações que levem aqueles que ali estão a se perceberem possíveis de serem novamente pessoas de bem, aceitas enquanto cidadãos na sociedade, após pagarem aquilo que lhe foi determinado pela Justiça em virtude dos seus delitos. Mas felizmente entendo que os conceitos de paz no qual embalamos nossas vidas são bem diferentes.

*Em tempo, o Senhor Cavalcante cometeu um "equívoco" ao afirmar que a Secretaria "pediu sua colaboração". Sobre esta questão a Sepaz já se manifestou através de sua Assessoria de Comunicação informando que ele participou do ciclo de palestras promovido pela mesma em parceria com a Sgap na condição de ouvinte, mesma forma que seus demais companheiros de detenção. Certamente não se trata deste tipo de paz que ele conhece que aquela secretaria se propõe a promover.