VIDAS SECAS NAS ALAGOAS

  • Roberto Amaral
  • 13/12/2012 06:17
  • Roberto Amaral

O Estado de Alagoas vive, possivelmente, a pior seca de sua história. Neste triste contexto se revelam erros elementares que, apesar de absurdos e insistentemente repetidos, parecem não ser mais enxergados devido à perda do senso crítico coletivo. É como se o sujeito se acostumasse com a pisadura da prótese mal feita, ou com o sabor da lama por perder a memória do doce da água potável.

Hoje abri um antigo exemplar do livro “Vidas Secas”, que tenho em posse, com o autógrafo do legendário escritor alagoano (foto postada). Ao olhar para a sua assinatura na primeira página, como se estivesse falando com ele, disse:

- Caro conterrâneo, nada mudou.
No início dos anos ’80, quando eu estudava medicina veterinária na UFRPE (Universidade Federal Rural de Pernambuco), ouvi de um palestrante israelense o seguinte:
- “Você é alagoano. O seu Estado é privilegiado porque o rio São Francisco o banha longitudinalmente. O seu Estado tem uma enorme oferta de água boa e doce justamente antes de ser despejada no mar. Ah se Israel tivesse essa bênção!”

Pois é, com muito pouca água de qualidade disponível, Israel consegue manter uma das melhores produtividades leiteiras do mundo, com média acima de 28 litros/vaca/dia/ano. Enquanto a média leiteira brasileira gira em torno dos 6 litros/vaca/dia/ano.

A redenção do semi-árido alagoano seria o Canal do Sertão, beneficiando-se da bênção divina pelo rio nacional. Assim, valer-se-ia a máxima dita pelo palestrante do oriente.

No entanto, o cenário geopolítico descrito por Graciliano Ramos, em sua obra literária, ainda insiste em persistir mesmo na modernidade. Pois, há mais de dois anos foram inaugurados a casa de bombas e quarenta e cinco quilômetros do referido canal, conforme amplamente divulgado na mídia. Mas, hoje, não corre uma gota de água sequer que venha trazer esperança ao sertanejo alagoano que depende da atividade leiteira, especialmente, para sobreviver.

Curiosamente, diante desta problemática da seca, com graves relatos de calamidade, um fato muito curioso acontece: uma grande equipe alagoana, composta de diversos representantes institucionais da cadeia produtiva do leite, e também lideranças governamentais locais fizeram uma recente viagem ao Canadá, numa “missão técnica” para transferências de tecnologias (experiências). Conheceram as congeladas fazendas de gado leiteiro e as práticas produtivas no país do gelo.

Pois é. É incrível como aparenta ser difícil o encontro com o caminho mais prático.

Como diria o colega palestrante israelense: “é tudo uma questão de foco”.