Palmeira dos Índios, Cidade Modelo: Passado e Presente
- Edmilson Sá
- 14/11/2013 09:35
- Edmilson Sá
(...) Os acontecimentos públicos são parte da textura de nossas vidas. Eles não são apenas marcos em nossas vidas privadas, mas aquilo que formou nossas vidas, tanto privadas como públicas.[1]
É por esta razão que relembrar o passado faz-se necessário não somente para lembrar nossa história; mas também ligar, de forma orgânica este passado público com a época em que vivemos. Por exemplo, na segunda metade da década de 1960, Palmeira dos Índios recebeu o título de cidade modelo do Estado. Eram frequentes as notas nos jornais palmeirenses com a frase: “Visite Palmeira dos Índios – Município Modêlo (sic) de Alagoas” (Correio do Sertão: 1967).
A elite palmeirense, jornalistas, colunistas, editores e cronistas persistiram e persistem em rotular e perpetuar de Cidade Modelo - Princesa do Sertão - por décadas, mas poucos atentaram para o título que a cidade recebera, do “Instituto Nacional de Desenvolvimento Agrário”, ou seja, modelo rural (Correio de Maceió: 1966). Estas características foram corroborando para criar uma identidade em Palmeira dos Índios. Ser Cidade Modelo não era entendido como acaso do destino, mas funcionou como uma necessidade. Pois era também, a terra de Graciliano Ramos. E, é neste contexto de personagens como Mestre Graça, que outros mais contraditórios ainda e de fama dúbia como Robson Mendes e Tenório Cavalcante vão se destacar em âmbito nacional.
A máxima shakespeariana que diz: “o mal que os homens cometem vive para depois de suas mortes; o bem que fizeram quase sempre enterra-se junto com seus ossos” (Júlio César, 1564-1616), pode ser aplicada ao personagem de Robson Mendes que ascendeu politicamente logo depois do Setembro Negro episódio em que seu pai fora assassinado na Assembleia Legislativa em Maceió no dia 13 de setembro de 1957. E trouxe mudanças no cenário político-social quando foi eleito indiretamente prefeito de Palmeira dos Índios. Começava aí, um dos capítulos mais violentos da cidade de Palmeira dos Índios, pois como prefeito, Robson Mendes, protagonizou avanços políticos na cidade, como, em conjunto com o Estado, construir o Colégio Estadual Humberto Mendes, de ensino, à época, ginasial, científico e normal. Paralelamente a estes avanços, a política palmeirense ficara marcada pela violência. Brutalidades nunca antes vistas na cidade, como assassinatos e perseguições que foram noticiados na imprensa. Conforme a Gazeta de Alagoas, “Cícero Porqueiro, o capanga de Robson Mendes, tenta matar um servidor do escritório da RFN” (Gazeta de Alagoas: 1960).
O mesmo jornal declara Palmeira como um antro de violência onde se produz selvageria em demasia: ... “E como estriagem (sic) para o mal foi escolhido o município de Palmeira dos Índios. Que forma os mais capacitados executores, e onde se armam e se engendram os mais desumanos planos inconcebíveis a um gênio da selvageria”.
A sociedade palmeirense vivenciava um contraste, pois, se por um lado, era lembrada e ainda é, pela fama de Graciliano Ramos, por outro, figurava e, hoje em dia, aparece atualmente, interna e externamente como uma cidade violenta. Chegando a contabilizar quatro (4) homicídios, em dois (2) dias.
A Memória tem suas exigências e as pessoas só a seguem, nada mais. A presença do novo e do velho é uma constante num contínuo vai-e-vem e quando fazemos e fizermos uma correlação entre as esferas sociais poderemos dissipar boa parte dessa penumbra que encobre a história da cidade. E quiçá, reescrever a nossa – isto é – uma NOVA HISTÓRIA PARA PALMEIRA DOS ÍNDIOS. Dessa forma, talvez possamos vivenciar uma Palmeira dos Índios em que seus cidadãos - sem temores - possa clamar e se orgulhar desta cidade - outrora, Maravilhosa - mas, agora, tão violenta. É preciso refletir mais... Fazer mais... Mudar mais...
NÃO A VIOLÊNCIA!!!
[1] HOBSBAWM, Eric. Era dos Extremos: o breve século XX: 1914-1991. 2ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2008. p. 14.
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