A Megera Domada
- Edmilson Sá
- 11/11/2012 11:19
- Edmilson Sá
A Megera Domada – Com direção de Homero Cavalcante, o Núcleo de Tetro Amador (NPE), traz para Palmeira dos Índios – na Casa Museu Graciliano Ramos – a peça “A Megera Domada”, de William Shakespeare. O grupo se apresenta nos dias nos dias 10 e 11, às 19h. A entrada é franca.
Segundo Homero Cavalcante:
A Megera Domada, como mostra um enfrentamento entre o masculino e o feminino, festeja o amor. E esse amor divertido e sem limites é que faz existir a grande comunicação com as mais variadas plateias na sequência dos anos. O cinema e a televisão já recorreram a esse texto e os poetas populares reinventaram Catarina e Petruchio, em seus livros de cordel. Mentir, trapacear, dominar e ser dominado são os grandes ingredientes ou especiarias para a construção de uma comédia que é clássica e romântica ao mesmo tempo. A propósito, “clássicos” são os textos que passam pela marca do tempo, conforme disse o escritor Ítalo Calvino. E os “clássicos” cumprem uma dupla função: divertem e fazem-nos refletir sobre as grandes questões da existência. O teatro nos oferece o necessário para nossos espíritos. Que saibamos aproveitar esse pedaço de instante: mágico, vivo, deliciosamente atual!
Ao ser perguntado sobre as adaptações para a TV e Cinema, Homero Cavalcante deixou claro que, como as peças de Shakespeare já são de domínio público há muitas adaptações, algumas boas, outras não. Algumas longas demais ou com mudanças drásticas no texto original. Quando perguntado sobre O Cravo e a Rosa, que foi uma adaptação de A Megera Domada para a TV brasileira, ele não quis comentar. Talvez porque ele compreenda o quanto muito das obras universais são tão comumente usadas, mas camufladas, fazendo com que milhões de pessoas as consumam, sem nunca saberem de onde vêm tais ideias. Pois, quantos não recorreriam às leriam obras de Shakespeare, se soubessem elas foram adaptadas para a Televisão? Mas ler clássicos da dramaturgia universal levaria as massas a uma consciência mais crítica, provocativa. O que a TV quer é uma população vidrada na telinha. E ela está conseguindo, pois dos 70,000 habitantes da cidade de Palmeira dos Índios, na primeira apresentação de A Megera Domada, havia no auditório, cerca de 70 pessoas. O teatro precisa, infelizmente, ser visto como um espaço de convergência, de discussão, de criticidade, ir ao teatro, assim como ao cinema, é uma escolha, muito mais que trocar o canal com um simples toque no controle remoto. O Teatro, segundo Homero Cavalcante, “oferece o necessário para os nossos espíritos”.
A peça tem cerca de uma hora de duração. Os atores cumprem muito bem os seus papéis e a direção de Homero Cavalcante faz toda a diferença, pois o domínio dos atores é impecável. Ele soube tirar as melhores falas em sua adaptação. Escolheu as personagens com delicadeza e a certeza de que dariam o melhor de si. As risadas e, se me permitem aludir, as comparações com o homem moderno, são inevitáveis, pois Shakespeare “Inventou” o Homem e a Mulher modernos. Isso significa que ainda vivemos sob seus sonhos, anseios, medos, fúrias, tristezas, alegrias e tragédias. Um belo momento para apreciar, em Palmeira dos Índios, o que de melhor já foi criado, na história da dramaturgia mundial.
Homero Cavalcante ainda nos brindou com algumas provocações. Entre as que merecem destaque, a necessidade que Palmeira dos Índios, hoje, tem de um espaço para encenações, cinema, música e dança. Segundo ele, apresentar uma peça de William Shakespeare, num espaço de 10 metros comprimento por 2,5 de largura, isso não existe em nenhum lugar do mundo. E apelou para que os poderes – não os poderes políticos – os grupos de teatro, cineclubes, se organizassem, como urge a necessidade de mudança, para que, com o ministério público e outras entidades, pudessem reformar o auditório da Casa Museu Graciliano Ramos. Com um Palco, mínimo para apresentações, refrigeração, acústica, entre outros.
Por fim, vale destacar o comparecimento de vários alunos, estudantes e professores. Destaque para uma turma, quase inteira, de alunos da Escola Estadual Humberto Mendes. Que se deleitaram com a peça. Entre estes alunos, farei uma menção a educanda HILDEANA DE LIMA BARBOSA, que além de ter lido a Megera Domada, estava empolgada e radiante, pois apresentará, em sua Escola, um trabalho sobre a peça de Shakespeare. E teve a honra de ouvir o próprio Homero Cavalcante – uma simpatia e simplicidade – falando com ela e se emocionando em saber que A Megera Domada fazia parte do currículo de uma escola pública estadual. E parabenizou-a por sua presença. A tal ponto de o próprio Homero Cavalcante se dispor a fazer comentários explicativos só para a aluna. Como quando falou o quanto, no final do último ato, percebemos que Catarina – aparentemente domada – deixa-se perceber, que ainda tem, em seu íntimo, o que fez dela tão universal – a impetuosidade da mulher moderna.
A MEGERA DOMADA É UM DAQUELS MOMENTOS PELOS QUAIS, MESMO EM TEMPOS DIFÍCEIS, COMO OS DE HOJE, ONDE O AMOR PARACE ESVAECER, CADA VEZ MAIS; MAS VALE A PENA, AINDA, LUTAR POR ELE, SORRIR, CHORAR, VIVER POR ELE...
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