Blog do Tony Medeiros

Quando a natureza chama...

  • Tony Medeiros
  • 22/07/2019 18:43
  • Blog do Tony Medeiros

Comecei a escrever meus primeiros offs “valendo” em matérias na TV Educativa, em Maceió. Engatinhava na vida televisiva graças ao amigo e premiado jornalista Severino Carvalho, que me indicou para período de estágio junto a Direção de Jornalismo da estatal. Naquele período o Governo de Alagoas havia criado um projeto chamado Governo no Interior. Todos os meses o Governo do Estado se instalava por três dias numa cidade do interior de Alagoas levando alguns serviços para a população. Minha primeira viagem foi pra Batalha. De repórteres estávamos Michelle Barros e eu. A diretora de jornalismo, Walkíria Sarmento, queria várias pautas, várias matérias mostrando não apenas os serviços, mas também o cotidiano das famílias sertanejas. Na equipe ainda estavam Gedson Duarte, Geraldo Vitório, José Reinaldo e Othon.
Na primeira noite a equipe se esbaldou na janta: Queijo, carne de bode, cuscuz, inhame, macaxeira, carne guisada de boi, por exemplo. O café da manhã foi igualmente recheado. Uma avalanche que a gente, obviamente, não estava acostumado a comer no dia a dia da correria sem tempo de cozinhar na Capital!! Todos ficamos muito "engajados" pra comer!!
Barriga mais que cheia.
Tinha um sol pra cada um. E tínhamos que ir a inauguração de uma obra pra fazer um VT sobre abastecimento de água. Seguimos até o local. Desci do carro junto com a equipe. O motorista nos avisou que iria procurar um banheiro. Tava agoniado, suando frio e não ia ao banheiro desde a noite anterior.
Avisei que por onde estávamos não havia sinal algum de banheiro.
Enfim...
Um pontinho em movimento no céu se aproximava. Era o helicóptero com as autoridades políticas para início da solenidade.
A aeronave se aproximou, veio mais, parou no ar para o piloto fazer a manobra, retornou na nossa direção e pousou. Segundos depois os passageiros desceram rindo. Rindo e muito.
Acompanhamos a solenidade. Gravamos entrevistas, imagens. Tinha muita gente enfrentando o calor com terno, camisa de botão, sapato.
Terminamos o material e encontramos com o motorista(como não consegui localizá-lo pra pedir a liberação pra citar o nome, então vou respeitar a situação). Ele estava encostado no carro da reportagem, com a mão na testa. Balanlava a cabeça negativamente, lamentando.
- O que foi, não achou o banheiro?
- Fui pro meio do mato, Tony.
- Fez o que deveria fazer?
- Fiz
- E essa cara?
- É que eu tava lá acocorado no meio do mato quando vi de longe o helicóptero. Continuei relaxado. Mas aí o helicópero foi se aproximando, aproximando, aquele vento forte...E num é que ele manobrou quase em cima de onde eu tava? Meu amigo, o mato abriu e todos eles lá em cima me viram!!

- E aí?

- Coloquei a camisa pra cobrir a cabeça e tentei levantar. Mas escorreguei. Usei umas folhas pra diminuir o estrago, mas tá aqui a situação difícil.

Ele abriu o coração e começou a rir de si mesmo. Na verdade ninguém aguentou não. Gargalhada geral dentro do carro. Deixamos os vidros abertos pro vento correr...e parada rápida num banheiro de restaurante pro motorista se lavar.

Aí eu entendi o porque das risadas dos passageiros do helicóptero.

Por quase dois anos a gente lembrou ao motorista aquela situação. Ele não facilitava e a cada conversa aumentava o drama da queda no meio do mato, no meio da própria m...

Contei aqui a primeira versão que ouvi!!
Ainda bem que ele não encontrou nenhuma urtiga!

O céu para o anjo

  • Tony Medeiros
  • 17/07/2019 13:10
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O bebê tinha apenas sete meses de vida quando se afogou num balde com água, no Sertão alagoano. O líquido, tão escasso na região, foi a causa da morte de um inocente. Como por aqui é comum a gente medir altura usando os dedos das mãos na horizontal posso dizer que o balde armazenada em torno de cinco dedos de altura com água.

Recebi a missão de ir até Pão de Açúcar com a equipe. Ainda em Arapiraca, quando entrei no carro da reportagem, bateu uma tristeza que fez o coração esfriar e mudar o ritmo. Foi um dos trajetos mais longos que fiz na vida. Pensava como aquilo poderia ter acontecido, como estava a família, como teria sido a agonia do bebê dentro do balde.

Chegamos a comunidade na zona rural de Pão de Açúcar. A mãe estava incomunicável na casa de vizinha. A dor que ninguém vê, mas massacra, aperta o coração. É preciso ter estômago pra se aproximar da família. Ter sensibilidade para entender a dor que ecoa no estado de choque. No olhar distante, nas lembranças dos dias anteriores, da convivência tão cheia de planos, tão cheia de sorrisos...Tão curta. O sentimento de culpa, acionando a máquina do tempo para se teletransportar até momentos antes da fatalidade e tomar outra decisão para impedir a perda.

Tivemos acesso a casa onde aconteceu a tragédia. Segundo relatos, enquanto a criança dormia na cama, a mãe aproveitou e foi até a casa da vizinha, fazer uma visita rápida no domingo. Neste intervalo, o bebê acordou, conseguiu descer da cama e engatinhou até o balde que estava entre a sala e a cozinha da humilde casa sertaneja. O objeto chamou a atenção da criança, que caiu de cabeça pra baixo dentro do balde. Quando a mãe retornou pra casa...a cena era de terror.

Correria pra tentar salvar, pra tentar salvar, mas o bebê chegou ao hospital sem respirar, sem vida.

Olhar aquele cenário me fez ouvir a criança chorando. Era aquele choro desesperado que se ouve a léguas de distância.

Precisava da minha humanidade para conversar com familiares e vizinhos. Pessoas que acompanharam todo aquele tormento, que passavam por todo aquele tormento. Não foi simples. Não foi fácil. Saber se tem foto, alguma imagem da criança num dos momentos de convivência com a família nos últimos sete meses.

Ao contrário do que algumas pessoas pensam, o objetivo do Jornalismo não é sobrevoar a notícia trágica. É informar para que outras pessoas não passem a mesma situação. Explicar que o piscar dos olhos pode ser lento o suficiente para um bebê engatinhar de um cômodo a outro da casa. Contar a história é dolorido. Você se coloca no lugar, não tem como fingir que não tem espírito ou coração. É um envolvimento necessário para se deixar mais humano.

A cena da casa na margem da estrada...aquele silêncio ensurdecedor. Aquele rio de lágrimas naquela terra de pouca água. Lamentações, gente chegando de outros sítios, sem entender como aquilo teria acontecido. Aconteceu, e o céu recebeu mais um anjinho.

Sabe quando a gente escorrega nas lágrimas, mesmo quando estes pingos são enxutos nas palavras? Quando as pautas envolvem situações com crianças como vítimas o mundo desaba pra todos.

Os brilhos de Palmeira

  • Tony Medeiros
  • 13/07/2019 14:32
  • Blog do Tony Medeiros

Visitar as ramificações da árvore genealógica em Igaci sempre foi aventura. A gente ia de fusca amarelo desbravando as estradas de barro na zona rural. Painho, mainha, Charles, Michelle, e eu. Sou o irmão do meio. Niélsinei Charles é o primogênito. E Michelle, a caçula. Ambos talentosos e exemplares!!
Naquela época das viagens ao Serrote do Jacuípe éramos crianças. Mi praticamente ainda era uma bebezinha (é que a té hoje não enxergo diferente). No fusca, eu olhava pra trás e via “a poeira cobrir” na estrada. Saíamos no sábado de manhã pra voltar no domingo depois do almoço.
A primeira parada era na casa do tio Edvaldo. Enquanto Leniro, meu pai, conversava com o irmão, a gente brincava. Os primos se juntavam pra dividir os times e bater uma bolinha. Traves feitas com as chinelas e os potenciais futuros craques corriam com os pés descalços na terra batida. Quando era tempo de manga, o futebol perdia de goleada. Era sentar à sombra, na área, sentir o vento assanhar os cabelos e degustar as mangas colhidas na hora, na árvore na porta da casa, ao alcance das mãos.

A viagem continuava. Faltavam alguns poucos quilômetros pra chegar na casa do meu avô João Ferreira da Silva (se bem que meu outro avô também é João), no Serrote do Jacuípe. Seguíamos por dentro do cercado, observados de perto pelo gado.

De dentro do fusca eu via umas plantas altas, formando uma cerca natural ao longo da cerca das estacas e arame farpado. Meu pai explicava que a planta se tratava de Labirinto. Num dos poucos momentos de ousadia, cheguei a pegar numa das folhas. Ela soltava uma espécie de líquido de cor branca, como se fosse leite.

- Não mexa aí. Esse leite pode cegar você!!

Ouvi isso várias vezes.

As cancelas no caminho não impediam a jornada (Sempre que escuto Samarica Parteira, de Luiz Gonzaga, lembro das cenas e as cancelas no Serrote do Jacuípe). O contato das plantas com o assoalho do carro soava como se estivessem molhadas, mesmo nos dias quentes e com sol. Esticava o pescoço e avistava as pedras no caminho. Meio mundo de pedras. Pensava:

- Se o vovô juntasse essas pedras e vendesse ia ganhar um dinheirão.

Ah, a inocência.

A chegada na casa era uma alegria só. Meu pai logo cuidava em colocar o carro embaixo de uma árvore, perto do curral. Sombra!! A gente já descia do fusca pra receber os afagos da tia Odete. Ela e Suely, filha dela, moravam com meu avô. Era difícil encontrar ele em casa durante o dia. Tava sempre na roça. Batalhador, trabalhador.

Das minhas lembranças daquela época, gostava de brincar com os carrinhos usando as pedras como obstáculos. Sempre contornava!! Sentar no batente alto pode até parecer simples demais. Mas era sentir o chão frio, o cheiro da natureza, mesmo parte da natureza sendo o curral.

Medo mesmo tinha dos cachorros. Ficava paralisado sempre que um se aproximava. Meu avô chegava, guardava a enxada, e tratava meu pai como filho. E eu, querendo compreender aquela relação:

- Será que o vovô dá bronca no painho?

Nãããooo...não precisava. Percebia a relação de respeito e carinho entre eles.

Quando o sol começava a se deitar no horizonte, o céu ficava pintado de laranja. Uma luzinha vermelha piscava no alto.

-É Marte.

Dizia minha tia.
Aprendi sobre as Três-Marias, Cruzeiro do Sul. Confesso: Já tentei contar as estrela no céu.

Café “pisado” no pilão. Ralar milho pra fazer cuscuz. Água no pote. Candeeiro aceso. Era a noite naquele pedaço de paraíso. Sem barulho de carros. Som mesmo era dos grilos, dos sapos...da gente conversando a mesa da cozinha depois da janta. Ali a imaginação viajava mais longe que Marte. Da porta da cozinha várias luzes láááááá longe. Mas em terra firme, no horizonte

- É Palmeira dos Índios!

Assim foram meus primeiros contatos com Palmeira. De longe e achando linda. Em geral, quem morava em Igaci resolvia muita coisa ou em Arapiraca ou em Palmeira dos Índios.

Meu pai se dedicava a explicar sobre a presença indígena, sobre Graciliano Ramos. Aliás, o Mestre Graça entrou na minha vida não apenas nas histórias contadas pelo meu pai. Conheci de perto as histórias através de leituras dos clássicos de Graciliano, natural de Quebrangulo (conterrâneo de Gilvandí, minha mãe), mas que teve um marco político na história de Palmeira dos Índios, quando foi prefeito do município e entrou por outra porta da história pela rigidez com que tratava os bens públicos. Rigidez leia-se cuidado com o dinheiro público.

Bebi de Vidas Secas e depois eu mesmo estive contando outras vidas de Palmeira dos Índios. Terra abençoada pelos ancestrais indígenas, pelo Cristo do Goití. Tive tantos encontros com Palmeira, com agricultura, com cultura, com música, com linha férrea, com livros, com a Casa do Graça. Coleciono memórias, algumas doces, outras azedas, que fico ainda mais orgulhoso pela jornada até aqui.

E aqui estou, novamente em Palmeira dos Índios. E meu coração pulula de emoção pelo convite feito pelo Minuto Palmeira e prontamente aceito por este humilde trocador de letras, para mergulhar mais fundo nas conversas do Goití, e buscar calmaria na mística dos ancestrais.

Mas não ficarei restrito aos causos palmeirenses. Pra marcar os gols, a exemplo dos bons times montados pelo CSE, é necessário jogar em vários tipos de tática.

Numa história que começou tão distante com as luzes dos postes e das casas parecendo vaga-lumes, da janela da cozinha da casa de meu avô, e hoje me sinto iluminado por estas luzes cada vez mais potentes.

Não posso encerrar este texto sem citar minha avó materna. Sei que conheci dona Josefa Basílio da Silva. Tem retrato que prova isso. Mas não tenho lembranças desses encontros. Eu ainda era muito pequeno. Pelos mais experientes soube que ela era um doce de mulher. Uma das frutas maravilhosas dessa árvore genealógica.
Ah, sobre a foto? Vou postar nas minhas redes sociais. No face estou Tony Medeiros. No insta sou o @tonynho_medeiros.

JORNALISMO É DEDICAÇÃO

  • Tony Medeiros
  • 12/07/2019 12:42
  • Blog do Tony Medeiros

Jornalista profissional diplomado pela Universidade Federal de Alagoas. Ouço e vejo tantas histórias que resolvi contá-las em palestras sobre empreendedorismo e motivação. Trabalhei em sites (agência de comunicação), jornais impressos (pauta, edição, redação, fotojornalismo, colunista), assessoria de comunicação (no começo da carreira, ainda na faculdade, escrevi discursos para um determinado candidato, que até foi eleito. Mas, politicamente e moralmente incorreto, não cumpriu o acordo de pagamento). Parece que minha praga deu certo e ele não foi reeleito. #ficaadica!!

Nasci em Arapiraca em março de 1979. Sou do bairro Alto do Cruzeiro. Tenho vícios por leitura, esportes, televisão, rádio, música.

Jornalismo é dedicação, é estado de espírito, é querer colaborar com comunidades em busca de dias melhores e evolução.

Dedicação vista nas melhorias que chegam nas localidades, e também são concretizadas nas prateleiras de casa com prêmio de jornalismo ambiental, prêmio Sebrae de Jornalismo, troféu Dandara, troféu Heróis da Resistência, Comendas Valores da Terra e Zumbi dos Palmares. E ainda as homenagens que recebi de pessoas e instituições generosas de Alagoas. Sou rico de afagos diários da turma carinhosa que assiste os telejornais da TV Gazeta, onde exerço funções desde 2007.

E começo aqui uma jornada cheia de graça, e com o Graça (aqui sim fazendo referência a Graciliano Ramos). No mesmo coração que agradece ao Universo pela graça de ser jornalista, também agradeço ao Minuto Palmeira pelo espaço e oportunidade de escrever num dileto e reconhecido site de informações sobre a querida Palmeira dos Índios e região.

Neste espaço os minutos vão passar lentamente, como os sonhos da cachorra Baleia desejando um mundo de preás. Imagens de vidas, de expressões, de secas retiradas, as mudanças, as igualdades. meus traços vão traçar trajetórias do que já vi, do que já vivi, numa cconfusão sem complexo da minha vida, da minha vida de jornalista.