"BACURAU" O Filme - É uma Alegoria do que poderia ser todas as cidades brasileiras

  • Edmilson Sá
  • 28/08/2019 22:23
  • Edmilson Sá
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Bacurau, novo filme de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, não é só mais um filme. Na verdade, Bacurau é uma alegoria sobre as cidades de nosso Brasil e, por vários motivos, deve ser visto dessa maneira, porque ele tem muito a nos ensinar. A começar por seu enredo, que, propositadamente, tem início com a seguinte frase: DAQUE HÁ ALGUNS ANOS... E nos apresenta um pequeno vilarejo no “Oeste” pernambucano. Sua trilha sonora é maravilhosa. Assim como sua fotografia, figurinos, atuações, maquiagem... O FILME FOI PREMIADO NO MAIS IMPORTANTE FESTIVAL DE CINEMA DO MUNDO, GANHANDO O PRÊMIO DO JURI, NO FESTIVAL DE CANNES 2019.

A verdade é que Bacurau (a localidade), é a personagem principal, e não um, dois ou três personagens são os protagonistas. Todos os moradores são Bacurau. E quando digo que são é porque são mesmo. Pois, em um determinado momento da projeção, uns forasteiros aparecem, levando os moradores a questionarem o porquê, deles estarem ali. E estes, quando entram num recinto para tomar algo, perguntam à dona do bar do porquê do nome Bacurau. A dona responde que é por causa do pássaro. A forasteira então fala: “há, está em extinção, não é?” A moradora então retruca: “aqui não, Bacurau é uma ave noturna... E muito braba...”

Outro ponto forte do filme é sua crítica social. E é aqui que eu quero me deter. Já que, é neste momento que Bacurau acerta em cheio em uma das feridas que mais atingem nossa sociedade: A Politicagem, os Políticos corruptos... Em determinado momento do filme, um candidato à reeleição, aparece na cidade para angariar votos e, pasmem, despeja uma caçamba de livros velhos – parecem tirados de um lixão – para doar à Escola Municipal de Bacurau. Não bastasse isso, remédios de tarja preta – muitos deles vencidos – são também doados, juntos de alimentos, alguns vencidos. O barato é que, neste momento em que o político aparece na cidade, ninguém, mas ninguém mesmo fica para vê-lo... Todos de Bacurau o menosprezam e, sequer ouvem a sua voz. O político fica falando sozinho e, ao longe, ouve a voz dos moradores mandando ele ir embora – com gritos de escárnio. Não tendo mais o que fazer, o candidato sai de mãos abanando.

Bacurau é um exemplo de uma localidade, que bem poderia ser a minha, a sua, as nossas cidades. EM QUE AS PESSOAS NÃO DEPENDEM DE POLÍTICO ALGUM PARA RESOLVEREM E GOVERNAREM AS SUAS VIDAS. Não quero com isso apresentar Bacurau como um exemplo de anarquia. Longe disso. Bacurau (A POPULAÇÃO) é simplesmente autônoma, independente. Entende que os representantes são uma realidade e necessários, mas não toleram a politicagem, o descaso com a coisa pública e políticos que se preocupam apenas consigo mesmos. Um recado para os brasileiros, pois, PORQUE ANO QUE VEM, COM AS ELEIÇÕES PARA PREFEITOS E VEREADORES, DE POLÍTICOS QUE SE APROPRIAM DA COISA PÚBLICA EM BENEFÍCIO PRÓPRIO E/OU MANTÉM PARCELA DA POPULAÇÃO À MERCÊ DE SEUS INTERESSES PARTICULARES, COMO CURRAIS ELEITORAIS...

Eu saí da sala de cinema com um desejo... E eu dizia comigo mesmo: MINHA CIDADE BEM QUE PODERIA SER COMO BACURAU... Falo isto porque, semana passada, li num jornal da cidade, uma charge não qual apareciam: Uma pessoa (candidata à prefeitura de Palmeira dos Índios), chamando um ex-prefeito... Depois, na mesma charge, também aparecem o prefeito atual e, não fosse já trágico, ainda é apresentada uma quarta pessoa, dizendo querer participar da festa/disputa. A CENA TODA É UMA PIADA DE MAU GOSTO... CONTUDO, RETRATA NOSSA REALIDADE ATUAL. POIS, ENQUANTO DISPUTAM O FUTURO DA CIDADE, COMO SE DONOS FOSSEM, E ESTIVESSEM ALI PARA CUMPRIR UM PAPEL HERÓICO, QUASE QUE CHAMADOS PELOS CÉUS... É A POPULAÇÃO, REFÉM HÁ ANOS, DESSE TIPO DE POLÍTICOS, QUE ASSISTE A TUDO, BESTIALIZADOS, QUEM SOFRERÁ AS CONSEQUÊNCIAS, POR DEPENDEREM DESSE SISTEMA, JÁ ENRAIZADO CULTURALMENTE EM NOSSAS CIDADES. “Povo que não aprende a sua história está condenado a repeti-la”.

Mas Bacurau é mais que isso. É um filme que tem muito a dizer e a ensinar. QUEM SABE, UM DIA, BACURAU NÃO SE ESPALHA E CONTAMINA OUTRAS CIDADES? ASSIM, “DAQUI HÁ ALGUNS ANOS”, CONTINUAREMOS A ELEGER POLÍTICOS, MAS ESTES, POR FIM, SABERÃO QUE DEVEM ATENDER AOS INTERESSES PÚBLICOS, APENAS. Quem sabe...!?