“Há situações, é claro, que te deixam absolutamente sem palavras. Tudo o que você pode fazer é insinuar. As palavras, também, não podem fazer mais do que apenas evocar as coisas. É aí que vem a dança” (2011, PINA).
É assim que começa o filme do alemão Wim Wenders, sobre Pina Bausch, numa homenagem a uma das mais importantes figuras da dança mundial. A dança, há milênios, evoca, não só sentimentos variados, alegria, medo, tristeza, paixão, introspecção, mas, acima de tudo, é uma expressão humana, uma linguagem. Mais que isso, é a arte pela qual, mesmo que todos os outros sentidos e/ou linguagens e expressões, desapareçam, ela sobrevive, porque ela se realiza mesmo sem som, e ainda assim, ela fala, ela grita, ela poetisa, ela inclui, ela é a estética dos movimentos.
Então, que grata surpresa, em nossa Palmeira dos Índios, na Casa Museu Graciliano Ramos, às vésperas do Dia Internacional da Dança, o Stúdio Dayse Fraser (e amigos/parceiros), produziu um espetáculo para os palmeirenses que, além de muita dança: Ballet Clássico, Dança Contemporânea, Hip Hop, Fit Dance, pudemos ver, também, Teatro, Pantomimas, Monólogo (Alex Ricardo/Tuba – ator, músico, performer, um jovem multifacetado – fez a plateia inteira vibrar, sentir e bater palmas, sem falar uma única palavra, através de seu monólogo com o uso da pantomima, disse mais com suas expressões, do que pudesse com palavras), Ginástica Rítmica, entre outras expressões corporais.
Foi uma fusão mais que pertinente, de duas artes tão fecundas em nossa cidade, mas que estavam tão distantes, uma da outra, nos palcos, para as plateias. E, qual não foi minha surpresa, ver, meus amigos, ex-alunos, que tanto trabalham com a dança, seja em academias ou companhias de teatro, agora juntos, dançando, ou melhor, TOCANDO NOSSOS CORAÇÕES com sentimentos de plenitude, de paz, de RESPEITO, de amor.
O espetáculo com plateia lotada (que, a pesar de apresentar o Ballet – sempre ligado às “elites” – dessa vez, mostrou o quanto ele, o Ballet, também se democratizou –, já que não vimos elites na plateia, vimos palmeirenses de todas as camadas sociais, vibrando com as Danças apresentadas), evocando a percepção do quanto, desde criança – e vimos quase bebês, dançando –, passando pela infância, adolescência até a maioridade, o quanto ela forma, informa, ajuda, conquista, insinua, agradece, alerta, alegra, faz-nos sorrir e querer dançar também. Eu testemunhei pais e mães se realizando através de seus filhos, netos, sobrinhos, irmãos. Numa alegoria tão linda quanto necessária à nossa comunidade, hoje, tão carente de tantas coisas. Mas tão disposta a se jogar com todas as forças, fossem possíveis as condições para tal. Por isso, necessário é fazermos uma crítica, aos poderes públicos e à iniciativa privada, pois há tempos que, tivessem essas iniciativas, patrocínios, investimentos, financiamentos, editais para a promoção desses eventos, não seria só nas comemorações do Dia Internacional da Dança, tais apresentações.
Grato fico com a visão de jovens empreendedores, amantes da Dança, com a qual tiram, através de seus trabalhos na Dança, o sustento de seus dias, meus amigos Dayse Fraser e Allysson Medeiros, juntando forças com o teatro e suas variantes, chamando dançarinos e dançarinas, atores e atrizes de nossa cidade, e tantas outras formas de expressão corporal, para mostrar que podemos sim, ter apresentações de qualidade. Que em Palmeira dos Índios, a terra do amor, a Princesa do Sertão, ainda pulsa, em nossas veias, uma não, mas muitas formas de fazer Arte. E é esta a principal função das Artes: DIZER ALGO. E, somente quando vemos, ouvimos, cantamos, gesticulamos e deixamos nosso corpo sentir e seguir os movimentos que as Artes querem nos dizer, também nos completamos. “É aí que vem a dança”...