TUDO JÁ FOI ESCRITO, O PROBLEMA É QUE NÓS ESQUECEMOS: Uma Reflexão Sobre Nós, o Brasil – Parte 1

  • Edmilson Sá
  • 20/05/2017 18:46
  • Edmilson Sá
Manoel Alves Neto

"As criaturas de fora olharam de um porco para um homem, de um homem para um porco e de um porco para um homem outra vez; mas já era impossível distinguir quem era homem, quem era porco.” (George Orwell)

Esta é a frase final do livro clássico, A Revolução dos Bichos, de 1945, que faz uma dura crítica aos regimes totalitários, em especial, ao regime stalinista, na extinta União Soviética. E é tão emblemática que, ao assistirmos os noticiários que se proliferaram pelo país, desde a última quarta-feira, dia 17, pela primeira vez, a direita brasileira percebeu, boquiaberta, o que a esquerda já vinha sentindo há algum tempo. SÃO TANTOS PORCOS NA NOSSA POLÍTICA QUE, FICA DIFÍCIL ENXERGAR SE AINDA EXISTE HOMENS E MULHERES DE BEM, HONESTOS E COMPROMISSADOS COM NOSSA DEMOCRACIA.

Não serei imparcial, até porque, se sou gente, sou parte. Mas também não vou me colocar entre esquerda ou direita (sim, usei OU e não E, propositadamente), tendo em vista que, para o bem ou para o mal, nossos representantes são tão parecidos que, quase não há mais distinção entre uns e outros. Por isso, quero pensar que sou UM INTEIRO, não dividido. Dessa forma, tento refletir sobre, e em como estamos nos afogando em nossa própria ideia de democracia. Mas, mais uma vez, volto a repetir, não estamos numa crise democrática, como alguns vislumbram. Prefiro dizer que temos sim uma crise, uma doença terminal e, aparentemente incurável, porque vivenciamos uma crise de representatividade. Aquela mesma, no Parágrafo único do art. 1º da Constituição Federal de 1988.

Como democracia, ainda somos uma nação jovem e que, vez outra, ainda ingênua e imatura, como acontece na nossa infância e adolescência, quando nos apaixonamos, no primeiro lance de olhar, mas, aos poucos e, de forma dolorosa, começamos a ver e entender melhor que a nossa paixão, seja ela a nossa primeira, nossa segunda, nossa terceira e, aí por diante, só nos desaponta e nos trai acintosamente. E mesmo assim, continuamos pela busca de uma sociedade melhor. Porque queremos ser melhores.

Em uma carta aos santos de Éfeso, o Apóstolo Paulo, ao perceber que os Cristãos andavam seguindo uns, depois outros e mais outros, ou seja, não focavam suas vidas num caminho que lhes trouxesse segurança, certa vez declarou:

“Para que não sejamos mais meninos inconstantes, levados em roda por todo o vento de doutrina, pelo engano dos homens que com astúcia enganam fraudulosamente”. (Efésios 4:14)

Sabiamente, salientou que não seguissem os homens, mas a Deus. Em que pesem os milênios entre ele e nós. Ainda seguimos e somos enganados pelos homens e, não raro, por nós mesmos também. Alguns, não acreditam mais em Deus. Então busquem na honestidade, na ética, na probidade, algo em que possam sentir segurança e melhores expectativas. Certa vez, saindo da Escola, me deparei com uma aluna, sentada ao lado do portão de entrada. Cabisbaixa, enquanto eu passava pelo portão, ela exclamou, dizendo as seguintes palavras, TEM COISA PIOR DO QUE ESPERAR? Minha resposta foi espontânea e direta:

“Esperar por algo que se sabe é tolerável; Esperar por algo que não se sabe é angustiante; Esperar pelo que não deveria esperar é frustrante; Mas nada, nada é tão doloroso do que não esperar por nada.”

O que esperar do Brasil, neste 21 de maio de 2017 e em tantas outras passagens, fatos e acontecimentos? Falo isto, porque passados mais de um ano, após o Impeachment da Presidenta Dilma Rousseff, que foi apontada como a grande inimiga da nação brasileira, assim como acontece com tantos outros quando se tornam párias, assim como tão bem explicado pelo historiador Tzvetan Todorov:

“O ‘Inimigo’ é a grande justificativa do terror; o Estado totalitário não pode viver sem inimigos. Se lhe faltam, ele as inventará. Uma vez identificados, não merecem nenhuma piedade.”

Um “inimigo” foi tirado do caminho. A pergunta agora é, tiraremos os demais, aqueles, agora, da direita? E, enquanto esses “honestos” inimigos, não saem, se é que sairão, como viver em paz e encontrar um pouco da única coisa que não escapou à Caixa de Pandora, a Esperança? São perguntas que só o tempo responderá, dirão alguns. Prefiro pensar em que, A MANEIRA QUE VOCÊ USA SEU TEMPO, DETERMINA A PESSOA QUE VOCÊ É (Sister Oaks).

Há muito sabemos, o Brasil é um país, sui generis, e reputamo-nos como únicos e algumas das características, das mais absurdas e nefastas, para a maioria, só existe por aqui. Relegamos tudo que não presta, aos políticos e ao nosso país. É dessa forma que muitos pensam, assim como Esopo, há mais de dois (2) mil anos, nos ensinou com a fábula da Raposa e as Uvas. Em que, frustrada por não conseguir o que queria, vira as costas e diz: HÁ, MAS ESTAVAM VERDES MESMO! E, é assim que a maioria esbraveja, isto é, É MAIS FÁCIL JOGAR A CULPA NOS OUTROS, na sociedade, num Brasil de Merd (?@#$%). É melhor dizer: DANE-SE A SOCIEDADE! Do que assumir nossa cota de responsabilidade, como cidadãos... “Povo que não aprende a sua História está condenado a repeti-la”. Dessa forma, estamos fadados a errarmos de duas maneiras: SE A SITUAÇÃO ESTÁ RUIM, SOMOS CULPADOS, PORQUE NÃO FIZEMOS NADA OU MUITO POUCO PARA MUDÁ-LA... E, SE, POR OUTRO LADO, A SITUAÇÃO ESTÁ TÃO BOA ASSIM, COMO ALGUNS DECLARAM, ERRAMOS TAMBÉM, POR PENSARMOS QUE JÁ NÃO PRECISÁVAMOS FAZER MAIS NADA.

Lembro de uma outra frase, que vira há alguns anos num filme para um público adolescente, chamado Convergente. O filme é esquecível, mas a frase não: GRANDES LÍDERES NÃO BUSCAM PODER; ELES RESPONDEM ÀS NECESSIDADES. Transportemo-nos à Era das Revoluções, em que a Burguesia emergente, se mobilizou, convocou as massas (desde àquela época é sabido que, SEM POVÃO, NÃO HÁ REVOLUÇÃO, pois as Elites, por si só, não fazem revolução alguma), liderou e extinguiu com o Ancien Régime e com o Mercantilismo, introduzindo seu projeto Político, Econômico e Social, com os ideais Liberais. Deixando o POVO, as massas, aonde não perturbem as Classes Dominantes, ou seja, na ignorância, na dependência econômica e social, não tão diferente da nossa situação atual. ENTÃO, FAÇAMOS UMA OUTRA PERGUNTA: Nossos Líderes Têm Respondido às Nossas Necessidades? Ou, por aqui, nossos representantes, pensam primeiro nos seus interesses/família e só depois é que vem o povo? Ou numa prefeitura que gasta centenas de milhares de reais – dos cofres públicos – em festa junina, enquanto promessas da abertura de hospitais, falta remédios à população e epidemia de diarreia, ainda são uma realidade em nossa cidade. São perguntas retóricas, infelizmente. Trago agora, o pensamento de William Shakespeare, num dos seus clássicos, Hamlet, que li também, há alguns anos, e que nos possibilita fazermos outra reflexão:

“Que valeria um homem, se o bem principal e o interesse de sua vida consistissem somente em dormir e comer? Não passariam de um animal? Sem dúvida alguma, aquele que nos criou com tão grande inteligência, que abrange o futuro e o passado, não nos deu tal faculdade e a divina razão para que em nós mofasse, por falta de uso.” (Hamlet. Ato IV, cena IV)

REVOLUCIONAR-SE. REVOLUCIONEM-SE! É praticamente impossível, mudar algo, quando não mudamos a nós mesmos primeiro. TENHO DITO, EM SALA DE AULA E, POR REPETIDAS VEZES QUE, QUANDO NADA MAIS PODE SER MUDADO, AO NOSSO REDOR, AINDA ASSIM, PODEMOS MUDAR ALGO. PODEMOS MUDAR A NÓS MESMOS. E ESTA É, TALVEZ, A MAIOR DAS MUDANÇAS. Mas, como, quando e aonde mudar? São perguntas que só cada um de nós, poderá responder a si mesmo.

Por fim, gostaria de falar sobre algo que discuti e ainda é atualíssimo, num dos vários vídeos que gravei em 2015, para meu canal no youtube,  no qual falo sobre A INTERMITÊNCIA DO BRASILEIRO: O SEBASTIANISMO – a busca por um herói que traduz uma inconformidade com a situação política vigente e uma expectativa de salvação, ainda que miraculosa, através do retorno de um morto ilustre. Assista ao vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=TYKYCJfVOk8.

Nossa dependência dos outros, sejam da aparência, através dos astros da TV, das Redes Sociais, à dependência cidadã, dos Políticos, passando pela alienação da nossa própria identidade histórica, quando negamos a nós mesmos a possibilidade de dirigirmos a nossa própria vida em sociedade, ao reverenciar pessoas que, na verdade, nem sabem que existimos, mas sabem que as seguimos. É só lembrarmos que já tivemos outros juízes, ministros, políticos e personagens que figuravam como verdadeiros salvadores da pátria. E, neste exato momento, onde estão esses salvadores? São pessoas em que podemos confiar? Mas como podemos confiar em terceiros, quando nós mesmos não assumirmos nossa cota de responsabilidade? Bem, como já disse, no começo dessa matéria, a culpa está sempre nos outros e na sociedade, não é mesmo? OU CONTINUAREMOS A ACREDITAR NOS PORCOS/HOMENS?