O dia 11 de maio de 2016, realmente, ficará na história brasileira; não só pelo resultado da votação favorável no Senado Federal, ao Impeachment, e, logo depois, da saída da Presidente afastada – por 180 dias – para a conclusão do julgamento. No mesmo dia, à tarde, o Presidente Interino, discursava pela primeira vez – concluindo seu discurso – com o lema positivista expresso na nossa bandeira: “Ordem e Progresso”.

Refletir sobre o Brasil, nos últimos dias, na verdade, já há alguns anos, não tem sido tarefa fácil e, descrever como as transformações políticas, econômicas e sociais, principalmente, abalaram as estruturas da nossa jovem democracia é uma verdadeira prova de fogo. E, nesta hora, ser imparcial é perigoso, pois, quem fica no “muro” é alvejado por ambos os lados. Por isso, a fala do italiano Francesco Carnelucci se faz necessária: [...] o Juiz (o Professor, o Advogado, a Dona de Casa, o Gari, o Médico...), é um homem e, se é um homem, é também uma parte.[1] (grifo nosso). Não sou imparcial, porque não há imparcialidade. Mas também não significa dizer que sou de “esquerda” (já foi filiado ao PT no início dos anos 2000), tão pouco que sou de “direita” (mas já fiz parte de um governo do PSDB e hoje estou filiado ao PMN). Minha posição é pelo Brasil, Pela Democracia e Contra a Corrupção; NÃO FALO MAL DE NINGUÉM. Falo dos problemas, desafios, das políticas e, neste momento, me reservo o direito de não citar nomes, é o meu jeito POLÍTICO de ser, sempre foi e sempre será. Até porque não vejo uma crise democrática – nossas instituições democráticas ainda são sólidas –, vejo uma crise de representatividade – nossos mandatários não representam os anseios da população em geral – e nem poderiam, pois não somos um povo homogêneo –, mas representam os desejos de determinadas camadas (classes/grupos) sociais.

Se eles não prestam, bem, é porque nós também não prestamos, em certo momento. Pois, quantos de nós têm ido com regularidade às Câmaras Municipais ou Federais e às Assembleias Estaduais para acompanhar, fiscalizar, deliberar e cobrar aos que nos representam? E, a despeito dos problemas e das desigualdades sociais – típicas do capitalismo – a pluralidade de ideias, de partidos, de lados também, são um atestado de que, numa Democracia – e somente nela – TODOS TÊM VEZ E VOZ (pelo menos nossa Democracia assegura tais direitos), mesmo às Minorias.

A física Marina Cortês – da Universidade de Edimburgo, na Escócia – sugere que o universo é feito de uma série de eventos únicos, que nunca se repetem. Cada conjunto de eventos só pode influenciar os acontecimentos do conjunto seguinte. Assim, se forma uma direção para o tempo. “O tempo não é uma ilusão. Ele existe e está realmente avançando”, explica a cientista. Chorar pelo leite derramado não fará ele voltar ao estado anterior. E, SE DEIXAMOS A SITUAÇÃO BRASILEIRA CHEGAR À CRISE ATUAL, BEM, NÃO DÁ MAIS PARA VOLTAR ÀQUELE “CRESIMENTO DE OUTRORA”. Mas dá, ainda, para fazer o que não fizemos lá atrás – PARTICIPANDO MAIS, COBRANDO MAIS E DELIBERANDO MAIS, por exemplo. Podemos até dizer: o fulano ou cicrano NÃO NOS REPRESENTA – mas é pura ignorância, pensar dessa forma, porque, quer queira ou não, numa democracia, vence a maioria simples. Se, por um voto apenas, um(a) determinado(a) representante chegar ao poder – ele ou ela nos representará, por mais que não tenhamos votado nele(a). É preciso repensar e agir mais, muito mais, sobre nossa responsabilidade num Estado Democrático de Direito – em que pesem uma ascensão do judiciário sobre os demais poderes. Ou como dizem alguns: Foi um golpe! Bem, nossas liberdades ainda estão de pé. “Em vez de encontrar um bode expiatório, prefiro assumir minha parcela de culpa. Pois, se o País estava tão mal assim, é porque fiz muito pouco para melhorar a situação. E, por outro lado, se nosso Brasil estava bem – como defendiam alguns – errei também, por pensar que já não precisava fazer mais nada”.

Precisamos, com urgência, ESTAR EM CONSTANTE FORMAÇÃO E FAZERMOS UMA REFLEXÃO CRÍTICA, MAS SOBRE A NOSSA PRÁTICA. ANTES DE SAIR PROLIFERANDO NOSSAS ANGÚSTIAS PARA TODOS OS LADOS. E, quando não conseguirmos os efeitos necessários, ou quando não mais depender de nós, tal mudança, paciência... Vamos em busca de mais amadurecimento e desenvolvamos também mais RESILIÊNCIA.

A TOLERÂNCIA, ou melhor, a falta dela (lembrando que sempre houve intolerância em nosso país, seja de uma região contra a outra – do Sul/Sudeste ao Nordeste – seja a discriminação étnica, de gênero, religiosa e contra as minorias – o fato é que é um processo perigoso; sem generalizar, claro). Infelizmente e, não raro, vimos e vemos alguns militantes se digladiarem uns com os outros por motivos religiosos, políticos – principalmente – e ideológicos, buscando sempre justificar um lado, em detrimento do outro. Mesmo sabendo que o grande barato da DEMOCRACIA é a convivência com o diferente. Contudo, estes, são incapazes de verem beleza e/ou neste caso, suportar o outro, aceitar o outro, se colocar no lugar do outro, muito menos com ALEGRIA. Certa vez, perguntada sobre o que é mais difícil, nas relações pessoais, Vera Loyola (socialite carioca), respondeu: O MAIS DIFÍCIL É O TEU AMIGO SUPORTAR O TEU SUCESSO. Essa frase é emblemática, pois alegria incomoda e, nos dias atuais, a felicidade de uns é a tristeza de outros. As pessoas esquecem-se que “SEM OS CONTRÁRIOS, NÃO HÁ PROGRESSO” (William Blake).

Como disse o controverso personagem Frank Underwood – do seriado House of Cards – “HÁ DOIS TIPOS DE DOR. A QUE TE FAZ CRESCER E A DOR INÚTIL”. Infelizmente, poucos escolhem CRESCER com a dor. Mas sempre houve uma saída para isso. SÓ PRECISAMOS NOS REINVENTAR. Esta fantástica criação humana, que é a mola de todas as transformações. NÃO PODEMOS ESPERAR QUE OS OUTROS MUDEM. ELES PODEM ATÉ FAZÊ-LO, MAS NÓS MESMOS PRECISAMOS MUDAR, RESSIGNIFICAR NOS CONCEITOS, IDEIAS E DESEJOS. O EXERCÍCIO PARA TANTO, PORÉM, NÃO É FÁCIL. NO ENTANTO, MUDAR A SI MESMO(A) É O COMEÇO DE TODAS AS MUDANÇAS... E ELA NÃO DEPENDE DE NINGUÉM, APENAS DE NÓS MESMOS.

Por fim, se determinado grupo que detinha o poder, agora não o tem mais, fica a dica, para os próximos governos. PRINCIPALMENTE NUM PAÍS GOVERNADO POR UMA POLÍTICA DE COALISÃO. Está escrito no primeiro tratado para a manutenção do poder governamental – e vem de Nicolau Maquiavel – O PRÍNCIPE NÃO DEVE SE APOIAR NA FORÇA DOS BOANERGES – MERCENÁRIOS – POIS, NO PRIMEIRO MOMENTO DE PERIGO, ELES O ABANDONARÃO. OU, OFERECENDO O INIMIGO, MAIS DINHEIRO, ELES CERTAMENTE PASSARÃO PARA O OUTRO LADO. Quem está no poder precisa aprender e se moldar constantemente, lembrando sempre que, uma vida de virtudes pode chegar ao fim, por um único erro, mesmo que todos sempre o cometessem. A LEI DE RESPONSABILIDADE FISCAL tem um poder coercitivo muito grande, principalmente quando usado para atender aos anseios dos grupos políticos.

Então, o que esperar do Brasil, de agora em diante? Uma das muitas respostas é: DEPENDE. Pois, O QUE FAREMOS DE AGORA PARA A FRENTE? Há alguns anos escrevi um pequeno poema – na verdade, está mais para um provérbio, em razão da nossa vida pós-moderna está acelerando tudo. Todas as coisas parecem acontecer tão rápido que mal temos tempo para nós mesmos. E o futuro têm-nos escapado a todo momento. E sabem o porquê? Porque “O FUTURO É O AGORA, SE DESFAZENDO”.

“MELHORAR É MUDAR; PORÉM, APERFEIÇOAR É MUDAR CONSTANTEMENTE.” O Novo País Que Tanto Almejamos Será Uma Realidade Quando O Construirmos. Isto É, Agora...

 

[1] CARNELUCCI, Francesco. As Misérias do Processo Penal. Editora Servanda. 1995.