O combate ao extremismo já estava na pauta do encontro entre as 20 principais nações industrializadas e em desenvolvimento, mas agora ganha protagonismo nas conversas.

O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, deu o tom da mudança neste sábado, já na sede da cúpula, ao convocar um "consenso da comunidade internacional contra o terrorismo".

"Como um país que conhece muito bem os modos e as consequências do terrorismo, entendemos perfeitamente o sofrimento que a França experimenta agora", afirmou Erdogan.

A Turquia enfrenta uma escalada da violência desde um atentado suicida em julho, perto da fronteira com a Síria, com um saldo de mais de 30 mortos. Suspeita-se da ação do grupo autodenominado "Estado Islâmico", que assumiu a autoria dos ataques na França.

No mês passado, duas explosões mataram mais de cem pessoas na capital turca, Ancara, em outro atentado ligado ao EI.

Mesmo antes dos ataques na França, a Turquia já havia montado um forte esquema de segurança para a cúpula, que incluiu a prisão na semana passada de dez supostos integrantes do 'Estado Islâmico'.

Boa parte do centro de Antália e de toda a cidade vizinha de Belek, onde ficam os resorts que abrigarão o evento, está fechada para circulação comum – passam apenas delegações, imprensa e organização.

O G20 é um fórum econômico, mas tradicionalmente aproveita a reunião dos líderes mundiais para tratar de conjuntura política. Por iniciativa da Turquia, presidente de turno do grupo, o combate ao extremismo e a crise dos refugiados estavam na pauta da discussão entre os chefes de Estado e governo - e agora crescem em relevância.

Os ataques de Paris não alteraram os planos dos líderes, que deverão manter dois dias de sessões de trabalho e conversas até segunda-feira. O único a cancelar sua participação até o momento foi o presidente francês, François Hollande. A presidente Dilma Rousseff chegou a Antália neste sábado.

Brasil no G20
Falando em economia, o Brasil que chega neste domingo à Turquia para a décima reunião dos líderes do G20 é muito diferente daquele do primeiro encontro, de 2008.

Naquela cúpula em Washington, chefes de Estado e governo de 90% do PIB mundial tentavam uma resposta de emergência ao estouro de uma crise financeira aguda nos países ricos.

O Brasil, por outro lado, vivia o auge da euforia dos anos Lula (2003-2010): grau de investimento havia sido obtido naquele ano, o PIB subia a 5,2%, o real se valorizava e a venda de commodities era embalada pelo apetite chinês.

Lula chegou a dizer na ocasião que a melhor solução para evitar o desastre global era "os países ricos resolverem seus problemas".

Sete anos depois, o Brasil é parte do problema do G20. Ao lado da Rússia, é o único membro em recessão. Tem grau de investimento ameaçado, moeda caindo, minérios e produtos agrícolas em baixa diante da desaceleração da demanda mundial, sobretudo da China.

Tudo isso não ajuda a esquentar uma economia global que já anda morna, seja pela recuperação lenta no mundo desenvolvido, pela aumento da dívida dos emergentes ou pelas guerras que cobram preço humano alto, como na Síria, Iraque e Afeganistão. O Banco Mundial prevê crescimento modesto do PIB global neste ano, de 2,8%.

Diante desse cenário instável, a presidente Dilma Rousseff e sua comitiva desembarcaram em Antália para dois dias de reuniões ampliadas e bilaterais, sessões de trabalho sobre temas diversos e um jantar de líderes no domingo.

O cardápio político da conversa dos chefes de Estado e governo ganhou peso e dividirá holofotes com a economia durante o encontro, por onde deverão circular 13 mil pessoas, entre diplomatas e lideranças empresariais, sindicais e da sociedade civil.

"Gerar crescimento sustentável e balanceado estará no centro da agenda dos líderes do G20. Isso pela desaceleração no crescimento e no comércio mundiais, a recessão no Brasil e na Rússia e pela retomada lenta nos países avançados do G7", diz John Kirton, diretor do G20 Research Group da Universidade de Toronto, no Canadá, um dos principais centros de referência sobre o clube das maiores economias globais.

O local da cúpula não facilita a vida de manifestantes, daí a expectativa de poucos protestos. O acesso a 10 km de costa na cidade vizinha de Belek foi fechado para o evento – a região tem cerca de 50 resorts e 15 campos de golfe de 18 buracos.

No hotel em que a presidente ficará, o recém-inaugurado Maxx Royal, há casas privativas de até 630 m² e 108 hectares para golfe. Os ministros Joaquim Levy (Fazenda) e Mauro Vieira (Relações Exteriores) acompanham Dilma na viagem.