Após ver seu nome dominar o noticiário político ao longo de toda esta terça-feira (14), o senador Fernando Collor de Melo (PTB-AL) fez um longo discurso no Senado atacando a Operação Politeia da Polícia Federal – parte da Lava Jato –, que classificou como constrangedora e humilhante para sua vida pessoal e profissional.

Collor foi um dos nomes da cena política nacional que acabaram alvos de mandados de busca e apreensão emitidos pelo Supremo Tribunal Federal com base na investigação tocada pelo procurador-geral da República Rodrigo Janot, do Ministério Público Federal. No total, os 53 mandados renderam a apreensão de carros de luxo, joias e milhões em dinheiro. O objetivo da ação era impedir a destruição de provas, segundo a investigação.

"E por acaso um veículo é um documento, é um computador?", criticou em seu discurso Collor, que teve três carros de luxo apreendidos em sua residência funcional na Asa Sul, na região central de Brasília – entre eles, uma Ferrari e uma Lamborghini, segundo o "Jornal Nacional".  "Qual seria o objetivo de intimidar promovendo uma cena de espetáculo nesta malfadada e ilegal iniciativa? [...] A truculência da operação extrapolou todos os limites do Estado de Direito."

Em boa parte de seu discurso, Collor se focou nas críticas que tem feito ao Ministério Público Federal desde que teve seu nome incluído na lista de políticos acusados de participar de esquema de corrupção na Petrobras – entre eles, figuram também os presidentes do Senado e da Câmara dos Deputados, respectivamente, Renan Calheiros (PMDB-AL) e Eduardo Cunha (PMDB-RJ). 

O alagoano, que, por meio de sua defesa, já havia postado em sua página no Facebook uma resposta à ação da PF, ainda afirmou que a operação teve o único objetivo de vender "espetáculo à mídia" e de "oferecer à opinião pública, de forma maldosa e equivocada, um juízo equivocado dos reais acontecimentos".

Primeiro presidente eleito democraticamente no País desde o fim da ditadura – e o único a sofrer processo de impeachment na América Latina, em 1992, após uma série de denúncias de corrupção em seu governo –, ele disse nunca ter vivenciado situação semelhante em sua vida, "de extremo desgaste emocional, mental e físico, juntamente com a minha familia, com minha mulher e minhas duas filhas de 9 anos de idade".

"Todos os limites constituicionais e todos os limites da ilegalidade foram ultrapassados. [A operação foi feita] sem se apresentar sequer um mandado da Justiça, confrontando e invadindo a jurisdição da polícia legislativa do Senado Federal e, portanto, a soberania do poder da República."

Em nota, a Mesa-Diretora do Senado, presidida por Renan Calheiros, fez discurso semelhante ao do senador alagoano, afirmando que a Polícia Federal descumpriu resolução da Casa, não apresentou mandado de busca e apreensão e arrombou residências devido à ausência de autorização.

A PF, por outro lado, rechaçou todas as acusações ao iG. "Nos mandados não há realmente, em momento algum, referência a regimento interno do senado e também à participação da polícia legislativa no Senado. No entanto, nele diz que cabe à PF cumpri-lo. Foi uma ordem do ministro [Teori Zavascki] do STF, a instância máxima da Justiça brasileira. Não há como discutir com isso", se pronunciou a corporação por meio de sua assessoria de imprensa. 

"Com relação ao arrombamento, isso nunca aconteceu. Como os oficiais do Senado não autorizaram a entrada dos agentes, foi chamado um chaveiro. E foi ele quem a abriu, garantindo o cumprimento da determinação judicial."