“Genocídio” – palavra que designa o extermínio de um povo, etnia, nação. Seja por motivos religiosos, raciais ou políticos.
É a partir da II Guerra Mundial que este termo – junto com outro, o Holocausto – vai ganhar força; no entanto, muito antes desse episódio, vários Genocídios ocorreram mundo à fora e, não raro, sem nenhuma comoção. Foi preciso assistir ao extermínio de quase seis (6) milhões de Judeus, para que pudéssemos ter uma ideia da complexidade do extermínio em massa.
O etnólogo francês, Pierre Clastres, discorrendo sobre a barbárie dos “civilizadores” europeus, em terras americanas – entre 20 e 30 milhões de indígenas viviam nas Américas, à época de seu descobrimento e, no Brasil, estimativas indicam que viviam, pelo menos entre 5 e 8 milhões de seres humanos – hoje há cerca de 10% dessa população. Boa parte do extermínio teve a mão da Fé Cristã europeia, que, quando não catequisava, era inerte, às atrocidades infligidas aos ameríndios. Clastres afirmava o seguinte:
“O etnocídio e o genocídio são como duas formas perversas do pessimismo e do otimismo. Pois ambos cometem uma certa criminalidade, tanto o etnocídio com a destruição da cultura, quanto o genocídio com a exterminação da minoria racial. “Em suma, o genocídio assassina os povos em seu corpo, o etnocídio os matam em seu espírito”. (CLASTRES, 1980)
Ele afirmava ainda que: “O PROBLEMA RESIDIA E AINDA RESIDE EM TENTAR EXPLICAR O OUTRO PELO QUE LHES FALTA”, se não tem a mesma religião, cor da pele, costumes, língua, etc. Tudo isso levou e ainda leva alguns a justificarem suas práticas como forma de levar uma pseudocivilidade. Mas, como vimos, no caso dos Judeus, foi para extermínio, que os Campos de Concentração foram criados. Chamada de A SOLUÇÃO FINAL. E em Auschwitz, um (1) milhão de Judeus foram exterminados. Até que, em 27 de Janeiro de 1945, o exército Russo, abriu os portões e libertou, pasmem, pelo menos, Mil sobreviventes. OS CAMPOS DE CONCENTRAÇÃO ERAM FÁBRICAS DA MORTE.
Entre estes, estava Primo Levi, em seu livro “É isso um Homem?”. O Judeu italiano foi um dos poucos sobreviventes a Auschwitz e Birkenau. Suas palavras nos dão uma ideia do que foram os Campos de Concentração alemães:
“Então, pela primeira vez, percebemos que à nossa língua faltam palavras para expressar esta ofensa: a demolição de um homem. Chegamos ao fundo... nada mais é nosso: tiraram-nos as roupas, os sapatos, até os cabelos, se falarmos não nos ouvirão e, se ouvirem, não nos entenderão... Roubavam também nossos nomes e, se quisermos mantermos teremos que encontrar, dentro de nós a força para tanto, para que, além da morte, do nome, sobre alguma coisa do que éramos.”
Essa comoção é recente. E, por vezes, controversa. Uma vez que no mesmo período, cerca de Vinte (20) milhões de Soviéticos foram mortos na II Guerra. Um exemplo prático foi o que os alemães fizeram na Bielorrússia onde “628 aldeias foram queimadas com todos os seus habitantes”. Ou, o primeiro grande genocídio do Século XX, na Armênia, com mais de Um (1) Milhão de mortos.
Mas a lembrança do que aconteceu na II Guerra Mundial foi tão impactante que mudaria o mundo. Até o Termo DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA vai aparecer após o conflito. Como uma maneira de proteger o ser humano, sem distinção étnica, religiosa, política.
No entanto, ainda vimos vários outros Genocídios pelo mundo. Um dos casos mais dramáticos e – infelizmente – pouco divulgado, foi o que aconteceu em Ruanda na África, 1994. Quando a etnia dos Hutus liderou um massacre contra a etnia Tutsi. Cerca de 800 mil pessoas foram ESQUARTEJADAS – O episódio ficou conhecido como TEMPORADA DE FACÕES. E isso tudo num período de Três (3) meses. Se formos comparar, nenhum outro massacre na história teve tamanha mortandade, em tão pequeno espaço de tempo. E, mais recente ainda, no mesmo período em que 12 jornalistas do Charlie Hebdo, eram assassinados, comovendo o mundo. Duas (2000) Mil pessoas, na Nigéria eram massacradas e “o mundo não viu”. Ou talvez, a cor da pele, dos mortos, não comovesse o mundo. Sem falar no Brasil, sim, aqui também foram construídos Campos de Concentração onde milhares foram mortos, à míngua.
Nos 70 anos de libertação de Auschwitz, ainda há pouco o que comemorar. Homens e mulheres estão perdendo os nomes, a identidade, a vida. “O mundo ainda é um lugar bom para se viver, vale a pena lutar por ele” (Hemingway), desde que não sejamos uma minoria.