Opinião Pública: “como se sabe, ela teve seus inícios com a Revolução Francesa. A Opinião Pública era definida como expressão no espaço público de uma reflexão individual ou coletiva sobre uma questão controvertida e concernente ao interesse ou ao direito de uma classe social, de um grupo social ou mesmo da maioria… A Opinião Pública é o uso Público da Razão, um juízo emitido em público sobre uma questão relativa à vida Política – Vida Pública é todo o espaço físico e abstrato da vida Coletiva e individual, seja na família, no bairro, no trabalho ou na escola – uma Reflexão feita em Público… E por isso define-se como uso Público da Razão. Com direito à Liberdade de Pensamento, Liberdade de Expressão”. (Marilena Chaui)

Os atentados na França foram sim, atentados à LIBERDADE DE EXPRESSÃO, uma vez que, cercear a voz, a vez e a vida são atentados contra às Liberdades ora conquistadas, depois de um longo processo histórico, no qual milhões deram suas vidas para que, hoje, tenhamos essa tal LIBERDADE. Contudo, essa LIBERDADE, por vezes foge aos conceitos de liberdade, àqueles mesmos idealizados na FLÂMULA francesa, qual seja: A LIBERDADE É AZUL, A IGUALDADE É BRANCA, A FRATERNIDADE É VERMELHA.

O Charlie Hebdo, há anos vem “agredindo” – se bem que, para alguns, não o seja – mas suas CHARGES, ácidas e, não raro, racistas e – para muitos povos, um verdadeiro atentado às suas crenças e ideologias. Mas, por incrível que pareça, essa chamada LIBERDADE DE EXPRESSÃO, seja individual ou coletiva, já que eram vários colaboradores no jornal. E que, bombardeavam, à sua maneira, com críticas e reflexões sobre variados temas, teve resultados adversos. A QUESTÃO, QUE POUCOS OUSAM FALAR É, ATÉ QUE PONTO SUAS CHARGES SAÍAM DO ESPAÇO DA CRÍTICA, PARA UMA APOLOGIA AO RACISMO OU À INTOLERÂNCIA RELIGIOSA, ENTRE OUTROS? Não quero com isto reduzir o trabalho do CHARLIE HEBDO. Ao contrário, é por conta desse tipo de jornal que muito da verdade vem à tona – veja-se o caso, no Brasil, do PASQUIM. Dessa forma, não critico o jornal, mas critico a Intolerância e o Racismos que brotaram desse jornal e que poucos falam sobre isso, muito mais agora, depois do massacre, que comoveu o mundo.

Não vou defender os terroristas – se há um bordão que cabe bem aqui é: “terrorista bom é terrorista morto”. Esse atentado vai mudar, de uma vez por todas, as relações naquele continente. Talvez poderíamos dizer que o 07 DE JANEIRO DE 2015 ESTARÁ PARA A EUROPA COMO O 11 DE SETEMBRO FOI PARA OS E.U.A., isto é, tudo vai mudar, as fronteiras, as relações, os estrangeiros – principalmente – vão ser vistos com muito mais cautela e/ou desprezo. Pois se os norte-americanos já tinham uma lista que proibiam que aqueles terroristas entrassem em seu território, mas por que eles tudo podiam em solo francês e deu no que deu? Se foi conivência ou ingenuidade o tempo vai dizer, mas é certo que muita coisa vai mudar na França. Uma nova “guerra” vai começar e vamos assistir, ao vivo, esse desenrolar.

Assim sendo, vale fazer a seguinte pergunta: LIBERDADE DE EXPRESSÃO, significa falar o que quer, do jeito que quer e de maneira pejorativa, racista e intolerante? EU SOU LIBERDADE DE EXPRESSÃO, MAS NÃO SOU CHARLIE HEBDO. Há 2000 mil anos um ensinamento ainda ecoa e dá-nos uma ideia do quanto precisamos mudar, para que um dia, encontremos àquela tão desejada paz e liberdade: “Portanto, tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lhes também vós a eles...” (Mateus 7:12). A música de Caetano Veloso, LÍNGUA, nos diz muito sobre esse assunto: “E eu não tenho pátria, tenho mátria. E quero frátria”. A busca pela FRATERNIDADE É UM DESAFIO ENORME. Pois requer que haja, entre as partes, um mínimo de RESPEITO – SEJA PELAS IDEIAS, CRENÇAS E ALTERIDADE – PELO OUTRO, ENTRE OS POVOS E PARA O CRESCIMENTO PACÍFICO EM SOCIEDADE.

Ter LIBERDADE DE EXPRESSÃO é essencial para nossa sociedade, mas que esta LIBERDADE DE EXPRESSÃO não tire o que há de bom no outro, não prive e não difame. Há quem diga que tem que falar o que quer mesmo... Tudo bem, MAS ATÉ QUE PONTO FALAR MAL, EXPRESSAR RACISMO E INTOLERÂNCIA É LIBERDADE DE EXPRESSÃO? Mesmo que tenham todas as razões para tal, pois sabemos que a religião e ideologias, historicamente, foram segregacionistas e intolerantes, além de escravizar, alienar e exterminar minorias, os diferentes... Mas, tais ações, as do CHARLIE HEBDO, refletem UMA OPINIÃO PÚBLICA? Os diálogos estão em desuso, porque é mais fácil dizer o que pensa, da maneira que achar certo, mesmo que isto implique em desconstruir o outro.

Este será, talvez, o grande desafio do século XXI, QUAL SEJA: “ver os outros pelos olhos dos outros”. Assim, as críticas vão estar presentes, mas o respeito ao diferente também. E mesmo sendo difícil aceitar ESTE DIFERENTE. Porque enquanto não se preservar esse respeito pelo outro, por suas crenças, ideologias, cultura e alteridade, a INTOLERÂNCIA, O RACISMO E A DISCRIMINAÇÃO continuarão a aparecer, mesmo nos lugares onde A LIBERDADE DE EXPRESSÃO é defendida com tanto ardor...