Praça do Skate: Acessibilidade “Zero”

  • Edmilson Sá
  • 05/08/2014 06:13
  • Edmilson Sá
Roberto Melros
Praça do Skate Sem Acessibilidade
Praça do Skate Sem Acessibilidade

“Como foi bom, voltar a estar naquela que é a Praça dos Jovens - Roqueiros, Descolados, UnderGround... A Reinauguração foi uma festa linda... Com grandes amigos... Um Super Show com a BANDA Ariel/Kaliban... Tudo de bom... E Ainda quase que eu faço uma manobra radical... Na pista de Skate... Vontade deu...”

Mas, infelizmente, um ponto triste precisa ser levado em consideração e, por mais que tantas coisas boas acontecessem, mesmo assim, isso não poderia passar impune. Observem a estrutura da praça... Os espaços estão bem organizados, alinhados... Está tudo ok, certo? Errado... Falta a ACESSIBILIDADE... Quando estive lá, na Reinauguração, percebi que havia um outro CADEIRANTE... E vi que, na hora do Show, das apresentações, ele não foi para o pátio de apresentação, onde vemos um espaço para Bandas se apresentarem... Qual foi minha surpresa, quando eu tentei me dirigir, também, ao mesmo palco, mas não havia nenhuma passagem de acesso para o palco principal... Percebi então o porquê daquele senhor, cadeirante, estar isolado, meio cabisbaixo e distante... Eu pedi ajuda aos amigos e ele me ELEVARAM para perto da Banda... Só assim pude apreciar o espetáculo...

Eu sou autossuficiente e independente em vários aspectos, mas não consigo ir com minha CADEIRA DE RODAS para vários lugares... E há exatos vinte (20) anos tenho “andado”, ou pelo menos, venho tentando andar, em minha cidade... Participei e participo de tudo... Mesmo sabendo que os lugares que eu vou, não têm ACESSIBILIDADE alguma... Sim... Podemos citar vários desses lugares... Desde prédios públicos, praças, bancos, supermercados, lojas, escolas, faculdades, ruas e logradouros... Parece brincadeira, mas até o Fórum de nossa cidade não tem ACESSIBILIDADE... Certa vez não participei de uma audiência porque me recusei a subir as escadas... Isso mesmo, o Juiz – me perdoem, mas eu não vou citar o nome – só me atenderia se eu subisse...

Bem, dessa forma, como em outras tantas maneiras e por várias vezes, venho deixar minha indignação a mais esse descaso... Não só comigo, mas com todos aqueles que precisam de ter ACESSIBILIDADE... E ter acesso, não significa privilégio... Segundo PRIETO: Ter Direitos não significa ter acessibilidade. Ter acesso não indica privilégios (Vantagem que se concede a alguém com exclusão de outrem e contra o direito comum). Precisamos entender que Inclusão Social não existe sem acessibilidade, e tão pouco significa privilégios.

Foi então que passei pela Praça do Skate, novamente, nesta Segunda-feira, dia 04, acompanhado de um grande amigo meu - o Professor Roberto Melros - a quem agradeço imensamente por ter tirado algumas fotos dessa matéria - que acompanha a minha trajetória há vários anos... Tiramos várias fotos para mostrar que em nossa cidade, os poderes públicos não pensam em ACESSIBILIDADE... Acham que é só colocar uma rampa numa calçada e pronto...

E sabem por que não se pensa em ACESSIBILIDADE? É simples... “Se você não anda, não vê, não pensa, não sente e não vive como uma Pessoa com Deficiência, então, você não sabe o que é melhor pra elas...” Mas como estamos em época de eleições, pareceu perfeita, a muitos, a Reinauguração de uma obra que, há pelo menos uns dois (2) anos não era terminada... Então a fazem de qualquer jeito, fazem a maior festa... E como das mais de seis mil (6.000) PESSOAS COM DEFICIÊNCIA, que vive em nossa cidade – segundo os dados do CENSO 2000, do IBGE – e infelizmente, Eu sou um dos poucos que perceberam este descaso... Precisei e fiz algo... Pelo menos estou fazendo a minha parte... Eu não vou falar mal de político algum, tão pouco citarei nomes... Isto não é do meu feitio, mas como CIDADÃO, posso e devo expressar meus sentimentos e minhas angústias, pois uma única rampa poderia fazer toda a diferença... Lembro de muitas vezes ter comentado, pelas ruas de Palmeira, com um amigo meu, a seguinte pergunta: O QUE É UMA RAMPA?

Mas, para deixar bem claro, gostaria de fazer uma outra referência, talvez mais propícia ainda, por estarmos em ano de Eleições Gerais... Todas as vezes que políticos aparecerem, com sorrisos largos, apertos de mãos e grande promessas e/ou obras e construções, lembrem-se de uma passagem, no filme Clássico, do cinema Brasileiro TERRA EM TRANSE, de Glauber Rocha, filme de 1967, e no qual há um diálogo que nos remete a toda esta discussão, pois em certo momento o personagem do grande ator, José Lewgoy, faz o papel de um grande político local e tenta tocar nos sentimentos dos mais pobres, do povão, fazendo-se se passar por um "homem do povo"... É então que um homem do povo toma coragem, se levanta e diz as seguintes frases: Com a licença dos doutores... Seu Jerônimo faz a política da gente, mas seu Jerônimo não é o povo! O povo sou eu que tenho sete filhos... E não tenho onde morar![1]

Parafraseando o diálogo, OS POLÍTICOS NÃO SÃO POVO... O POVO NÃO ANDA EM CARROS DE LUXO E MUITOS DELES NEM TÊM ONDE MORAR... O POVO, INFELIZMENTE, VIVE APRISIONADO DE MANEIRA SOCIAL, CULTURAL E IDEOLOGICAMENTE... ALGUNS CONSEGUEM SE LIBERTAR, MAS A GRANDE MAIORIA SOFRE E É OU ESTÁ SENDO ESMAGADO POR ALGUNS QUE SE ACHAM OS MELHORES PARA NOS GOVERNAR... A ESTES – OS QUE PENSAM SEREM BONS PARA O POVO – EU CONCLAMO, VENHAM, DISPAM-SE DA VIDA BOA QUE LEVAM, E PASSEM UM DIA, UM ÚNICO DIA, COMO UMA PESSOA DO POVO – SE JÁ ESQUECEU COMO ERA ESSA VIDA – VENHA, PROVE-A NOVAMENTE... E SE QUEREM SABER COMO É NÃO PODER SUBIR UMA CALÇADA, SENTEM NUMA CADEIRA DE RODAS E, POR UM ÚNICO DIA, TENTEM SUBIR UM CALÇADA, ATRAVESSAR UMA RUA, USAR UM BANHEIRO, TUDO ISSO SEM ACESSIBILIDADE... E TENTEM VIVER, AINDA, SORRINDO...

Falo isso porque um projeto já foi apresentado e apreciado ao Executivo e ao Legislativo de nossa cidade, mas nada se fez... Acredito que as Engenharia/Arquitetura CONTRATADAS pelo Município, estão um tanto DEFICIENTES... Bem, quero que saibam que Eu tenho amigos e amigas que, se pudessem, trocariam de lugar comigo, sem pestanejar, pois sabem e vivem a vida em sua plenitude... Muitos deles me carregam nos braços – literalmente... Outros há que, mesmo tendo uma vida cheia de oportunidades, ainda assim procuram ver, andar e sentir como o coração... E é por eles e por tantos outros, que, talvez por medo e pela falta de forças, que não podem ou são impedidos de dizer o que sentem, que me expressei desta maneira... Então, eu abri o meu coração expondo meus sentimentos... Amo Palmeira dos Índios, amo meus muitos amigos... Mas espero que mudemos mais, que mudemos a nós mesmos, para que, por fim, possamos mudar mais, ao nosso redor... PORQUE NÃO ME CONFORMO EM SER MENOS DO QUE AQUILO QUE REALMENTE DEVO SER (Gordon B. Hinckley).

E SE PALMEIRA DOS ÍNDIOS NÃO PRESTA - CERTAMENTE ALGUÉM POSSA DIZER ISSO - SE NOSSOS REPRESENTANTES NÃO PRESTAM, É PORQUE, EM ALGUM MOMENTO, NÓS NÃO PRESTAMOS TAMBÉM. DEIXAMOS DE FAZER E PENSAR COLETIVAMENTE... MAS PALMEIRA PRESTA, AMO ESSA CIDADE... SÓ PRECISAMOS FAZER MAIS E ASSUMIR NOSSAS TANTAS RESPONSABILIDADES - PARTICIPANDO, FISCALIZANDO, PRECIONANDO, COBRANDO, ATUANDO MAIS E MAIS...

E SE NADA MUDAR... MESMO ASSIM, COMO HÁ VINTE ANOS VENHO FAZENDO, VOU CONTINUAR A ANDAR EM MINHA CADEIRA DE RODAS PELA MINHA CIDADE, SEM ACESSIBILIDADE. E SABEM POR QUÊ? PORQUE APRENDI A VIVER... A VER MAIS... SENTIR MAIS... A AMAR MAIS... MESMO QUANDO TENTAM ME IMPEDIR DE ASSISTIR UMA APRESENTAÇÃO OU NÃO DÃO ESPAÇO, NEM PASSAGEM PARA UM SIMPLES CADEIRANTE... E FAÇO ISSO PORQUE EU SOU “POVO”.

 

[1] TERRA em transe. Direção: Glauber Rocha. Brasil: Versátil, 1967. 1 DVD (115 min), widescreen, P&B.