Em entrevista ao Blog do Edmilson Sá, Cristiano Alberto de Oliveira – PINTOR, DESENHISTA, ESCRITOR, ESTUDANTE DE JORNALISMO PELA UFAL. Membro de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, relatou a sua vida, nos sopés do Goiti. A infância simples, mas plena. A família, os irmãos, amigos e as influências. Os anos 80 e 90 do século passado. As escolas, da vida à Universidade. Tal é a simplicidade de suas palavras, que mesmo quem nunca o viu, começa a ter uma íntima relação, pois ele fala de coisas que, há muito, o mundo tem esquecido e que nós tanto buscamos, almejamos encontrar. Cris, como sempre o chamo – foi minha maior influência na adolescência e vê-lo tomando forma, como artista é maravilhoso. Deleitem-se com suas palavras, pois elas estão cheias de apreço, de emoção, de simplicidade, de honestidade, de amor à vida.

Meu nome é Cristiano Alberto de Oliveira, mas assim que me conhecem sempre acabam me chamando de Cris. Por isso, hoje, mesmo adulto, aceitei o “Cris” como um bom apelido e acho legal que me chamem assim. Sou filho de um pintor e de uma costureira, nascido e criado no número 642 da Pedro Soares, em Palmeira dos Índios, a “rua do cemitério”, fiz do meu quintal o meu mundo onde comecei a me apaixonar por histórias e arte.

Sou filho de Palmeira dos Índios, amo minha cidade, cada vez que volto e avisto o Cristo e o Goiti ao longe é maravilhoso o sentimento de estar “voltando para casa”. Minha mãe, a cada vez que saio a noite, nas poucas vezes que o tempo me permite, me diz que “Palmeira não é mais a mesma, que é muito perigoso voltar tarde para casa”, mesmo assim, acho que será o lugar mais aconselhável para me assaltarem, pois não consigo acreditar nisso e caminho pelas ruas como se voltasse aos anos 90. No entanto, como diz minha mãe, fui “criado para o mundo”, por isso, escolhi Maceió como mais um lugar para morar faz praticamente uma década.

Cresci como um legítimo filho da década de 80 e de tudo o que ela produziu. Filmes excelentes, ótima música, quadrinhos maravilhosos. Também tive o privilégio de ter sido influenciado pelo gosto de meus irmãos mais velhos e amigos pelos quais tenho profunda gratidão e honra em ter convivido com eles. Minha educação foi modesta, mas de muito boa qualidade, como sujeito simples, estudei em duas ótimas escolas da época. O Grupo Escolar Graciliano Ramos, hoje Escola de Ensino Normal e depois o Colégio Estadual Humberto Mendes. Esses dois lugares significam muito para mim, são como lugares sagrados, são templos de conhecimento, aprendi muito neles. Não consigo pensar neles sem me emocionar por tudo com o que me presentearam.

Com toda a carga cultural que encheu a minha vida, infância e juventude, foi impossível não gostar de coisas como ler, escrever, desenhar e pintar. O tempo todo, estas coisas estiveram presentes, uma com mais força que outra, a cada tempo, se revezando, encontrando seu espaço. Por vezes elas foram boas opções profissionais, noutras somente hobbies.

Segui o caminho dos livros, fui pessoa frequente na Casa Museu Graciliano Ramos, lendo muitos livros, romances, contos, passava horas lá.

Amava observar as pessoas e a cidade, me encantava em ir para outro lugar sagrado para mim, o Cristo do Goiti. Era uma “extensão” do meu quintal. Aprendi o caminho com meus irmãos e quando cresci passei a ir para lá sozinho. Gastar horas lendo, escrevendo, pensando. Confesso que nunca, nunca entendi como até hoje, nenhuma administração teve a competência de transformar o local em um lugar digno, limpo e capaz de ser turístico. É interessante como elas pensam em não investir, pois não acham que alguém vai subir até lá “só para olhar a cidade de cima”, sinceramente, o que penso é que uma das maiores razões que faz as pessoas encararem a subida é justamente isso. As pessoas gostam disso. Melhor pensar em pessoas que gostam de ver as coisas de cima do que aturar governantes que só olham para baixo.

Palmeira é um ótimo lugar, pena que, como em muitos lugares, os governantes não ajudam mesmo.

Como toda cidade pequena e tranquila, Palmeira sempre foi lar de ótimos artistas. Inspirando-me neles, na cidade e com a bagagem que fui acumulando com o passar dos anos, escrevi um livro e contos que até hoje ainda não foram publicados. Interessei-me pela pintura artesanal e cheguei a tentar investir nisso, infelizmente, com exceção de uns poucos amigos e familiares, o incentivo era quase zero, e por vezes, me frustrei seguidamente, cheguei a “enterrar meus talentos”, guardá-los numa gaveta, só nunca consegui esquecê-los. Não importava o que eu fizesse. Fiquei bem longe de Palmeira, mas quando aquilo está “em você”, impregnado, gravado em sua alma, mente e coração, não adianta “dar uma de Jonas” e tentar fugir.

Graças ao curso de Jornalismo na Ufal que faço atualmente, bastou um encontro repentino com a arte e pronto! A vontade de pintar explodiu novamente de uma forma que não pude conter. Recomecei a pintar, comprei novamente camisetas e me pus a colocar nelas todas as coisas que sempre amei. Música, quadrinhos, literatura, cinema. Essas coisas misturaram-se ao atual, tendências de hoje, práticas de ontem. O mix das Camisetas do Cris estava formado! Criou corpo, ganhou uma fanpage no Facebook, ganhou uma proporção maior, fui convidado para um programa de TV local e hoje, concedo essa entrevista.

Reconheço a dura realidade de tentar “viver de arte”, muito arriscado no nosso contexto, bem melhor na capital do que no interior, se perto dos turistas, melhor. Por isso a gente sempre pensa que “as pessoas de fora nos valorizam mais que os daqui”.

O processo de pintura é quase que totalmente artesanal, usa camisetas simples, tinta simples, mas a graça, o charme de cada peça é exatamente esse. É simples, no entanto não se trata de um processo industrial, de reprodução qualitativa, mas traz consigo a característica de ser pessoal, refletir exatamente seu gosto, sua opção e não o que às vezes acontece, você ir a uma loja e acabar comprando uma peça tendo a certeza que na próxima festa corre o risco de  encontrar mais de uma pessoa com a mesma peça.  As Camisetas do Cris são uma opção acessível, artística, artesanal e completamente diferente de tudo o que a gente vê por aí e por aqui. Fico feliz de ter atendido a encomendas de pessoas do sul e sudeste do país que afirmaram não encontrar ali onde moram uma arte como a que faço. Isso motiva. Motiva também a criação, ver uma imagem, uma frase, um tema tomando forma, surgindo. Incentiva ver as pessoas usando, na rua, nas festas, na faculdade, tirando fotos e me mandando via rede social. Isso é ótimo. Confesso que destino a cada peça com o mesmo cuidado, atenção, carinho.

Desejo continuar criando, produzindo, estamos falando de arte e criação, estamos falando de ideias, para mim essas são coisas que se auto reproduzem, parecem ter vida própria e encontram fatores que as fazem surgir quase que do nada, por isso não gosto de “encerrar” ideias, possibilidades. Ainda penso que vou criar muita coisa, sei que há muito, muito para se explorar. Há tantas vertentes, há tanta coisa bela e útil para se criar, Espero que Deus me conceda longevidade para tornar isso possível. Como cidadão, espero mais incentivo, por meio de programas, cursos, opções. Creio que o Governo possui recursos e mecanismos que podem tornar todo o processo de criação não somente meu, mas de cada artesão ainda mais acessível, produtivo, consumido e admirado.

Agradeço a vocês, como mídia, o espaço cedido à gente da terrinha e a cada artesão.

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