Há alguns anos, quando estava terminando o Curso de Licenciatura Plena em História, na UNEAL, em Palmeira dos Índios, e em uma das muitas conversas que tive e que sempre anseio em ter, com Luciano José – que fora meu professor de Filosofia – ele comentava que estava trabalhando num projeto diferente. Ele queria resgatar à Memória “brasileira” o legado de Jacinto Silva. Depois de anos de trabalhos, pesquisas, nenhum patrocínio e muita dedicação, Luciano José – Escritor, Poeta, Crítico, Ator, Filósofo e um Intelectual e Pensador magnífico, com quem tive e tenho o privilégio de poder conversar, aprender e me deleitar com a simplicidade de suas falas,traz ao cenário brasileiro o livro “Jacinto Silva: as canções”, que sai pelo selo da Imprensa Oficial Graciliano Ramos e que gentilmente cedeu ao portal, MinutoPalmeiradosIndios.com.br, uma breve, mas esclarecedora entrevista:
Biografia: Luciano José nasceu em Maceió (AL), em 30 de março de 1962. Após ter cursado o ensino básico, concluiu a licenciatura em Filosofia na Universidade Federal de Alagoas em 1987. Inicia sua atividade como professor em 1992 em várias escolas da capital e do interior do estado. Retorna à universidade para cursar a especialização em Filosofia Social em 1999 e a partir de 2000 passa a residir em Palmeira dos Índios para trabalhar como professor na Universidade Estadual de Alagoas (UNEAL – Campus III). Já publicou alguns artigos acadêmicos em revistas especializadas. Seu interesse pela literatura começa na adolescência quando entra em contato com grandes escritores, no entanto, a criação literária surge somente no ano de 2006, quando publica seu primeiro trabalho literário: Intromissão do poema. Em 2007 surge os Grãos de versos, em 2009 publica o terceiro livro V(e)ia poética e em 2011 vem a público o Conta-gotas. A leitura de livros, um bom papo e ouvir música são seus maiores deleites.
Por que Jacinto Silva?
Porque continua sendo um dos melhores produtos culturais da música popular brasileira nascido em Alagoas. A arte musical de Jacinto Silva, junto com outros bons valores, eleva nossa autoestima e nosso orgulho de sermos alagoanos. Como sempre acontece com Alagoas, a arte acaba nos redimindo.
Qual o legado da obra de Jacinto Silva?
É que quando ouvimos suas produções musicais nos reportamos as mais autênticas tradições pertencentes à Região Nordeste: os festejos juninos, a sanfona de oito baixos, a vaquejada, o pandeiro, o forró de raiz, as rodas de coco, a alegria dos brincantes. Seu trabalho, como a musicalidade de Gonzaga, expressa as angústias e o sofrimento de um povo e o gosto pela festa e pela alegria de viver.
O que representa os 80 anos de nascimento de Jacinto Silva?
Uma oportunidade ímpar de tentar revitalizar o trabalho musical de um artista com qualidade comparada a Gonzaga, Jackson, Dominguinhos, Ary Lobo, o Trio Nordestino, entre outros nomes de peso. Em 2012, ano em que se comemorou o centenário de nascimento de Luiz Gonzaga, o estado de Pernambuco celebrou intensamente um dos seus maiores artistas. Espero que os alagoanos aproveitem a data para mostrar às novas gerações a perenidade da obra do mestre do coco sincopado.
Quais os limites e dificuldades da produção do seu trabalho bem como os acessos?
Como sou professor e tenho compromissos profissionais a cumprir a pesquisa acabou sendo feita nos momentos de ócio e também ficou dependente dos meus próprios recursos financeiros. No entanto, deu para realizar o que havia determinado, afinal queria fazer um trabalho de pesquisa sem cobranças acadêmicas, sem prazos a cumprir, mas que tivesse certa relevância. Nessa hora não preciso de falsa modesta. Agora a maior dificuldade e lamentação foi não ter conhecido e ficar impossibilitado de entrevistar Jacinto, pois a pesquisa foi iniciada com ele fora do mundo dos vivos. Mesmo assim, muitas pessoas com quem conversei e inclusive parceiros musicais que mantive contato foram bastante prestativos e receptivos. Todos foram unânimes em reconhecer que o esforço valia à pena. É uma coisa impagável a satisfação e a alegria de cada fato que ia sendo descoberto sobre o autor.
Jacinto Silva é um artista reconhecido e lembrado em Alagoas, particularmente em Palmeira dos Índios?
Não, a ignorância e o desconhecimento pelo trabalho de Jacinto é algo incomensurável. Jacinto só servia aos alagoanos, sobretudo as suas elites, como peça de promoção do turismo e outros eventos circunstanciais. Alagoas não deu o devido valor a um dos seus maiores artistas, prática comum por essas plagas.
Como está estruturado o livro “Jacinto Silva: as canções”?
Há análises críticas da obra em geral e das letras em particular, uma cronologia que demarca seu itinerário existencial e artístico, letras de todas as suas composições, discografia, entrevistas, fotos e outras curiosidades. É um trabalho pioneiro porque até agora nenhum artista da música popular nordestina teve um tratamento nessa dimensão. Ele faz parte da minha v(e)ia filosófico-poético-musical.
O lançamento do livro “Jacinto Silva: as canções” acontecerá nesta quinta-feira dia 25 de abril de 2013, no bar Gota D’agua, à partir das 20h00.
Mais uma vez Palmeira dos Índios – ou melhor, pessoas que amam a Cultura e o Legado dos que passaram por Palmeira dos Índios – sem incentivo algum, sem patrocínio,resgata um passado que precisa ser lembrado e respeitado. Parabéns Professor Luciano José!!!