Sobre a Amizade:

E que não haja outra finalidade na amizade a não ser o amadurecimento de espirito. E que o melhor de vós próprios seja para vosso amigo. Se ele deve conhecer o fluxo de vossa maré, que conheça também o seu refluxo. Pois, achas que podes procurar vossos amigos somente a fim de matar o tempo? Procurai-os sempre com horas para viver: “O papel do amigo é encher vossa necessidade, não vosso vazio”. (GIBRAN)

Talvez um dos maiores desafios seja percebermos o que tal expressão significa, pois geralmente buscamos “os outros (os Amigos)”, nos momentos de folga, quando nos sobra algum tempo. Esta geração pós-moderna parece ainda está aprendendo a lidar com o tempo, estresse, correria, redes sociais. Nesse contexto, uma sociedade que cultua o Hedonismo vai ter tempo para amigos? Ou fica mais fácil CURTIR, CUTUCAR, COMENTAR OU COMPARTILHAR? Num mundo onde o Efêmero impera, onde somos forçados a enxergar o aparente, onde a futilidade e o egoísmos são a propaganda da vez. Como sermos amigos de verdade? Me pergunto. Por isso mesmo as palavras do escritor Richard Bach - Sobre “Amizade”, Tempo e Espaço são tão oportunas:
“Se nossa Amizade depende de coisas como o Espaço e Tempo, então, quando finalmente dominarmos os dois teremos destruído nossa fraternidade! Mas, supere o Espaço e tudo o que nos sobra é o Aqui. Supere o Tempo, e tudo que nos resta é o Agora. E entre o Aqui e o Agora, você não acha que a gente pode se ver de vez em quando?” A música da Banda Mineira Jota Quest já dizia: “Pra que tanto telefonema – e eu acrescentaria, tantos e-mails, msn, scaps, chats – se o homem inventou o avião...”
“Vivemos numa sociedade em que as pessoas não mais se tocam... Elas simplesmente, se chocam...” (Crash, 2004)

Quero deixar claro que não sou contra as novas tecnologias da informação. Nem contra as redes sociais, ao contrário, uso-as frequentemente e percebo que elas são ferramentas maravilhosas. Encurtaram as distâncias, fizeram revoluções (veja-se o caso do Twitter e outras redes sociais na Primavera Árabe, que fez o mundo inteiro saber dos massacres naquela região e derrubou ditaduras e loucos genocidas), e elas ainda ligam pessoas – quando bem usadas. Através das redes sociais tenho reencontrado amigos que não via há décadas e feito muitos outros.

Só gostaria de lembrar que, quando a mais popular das redes sociais foi criada, ela foi usada para depreciar, discriminar, falar mal e criar um Ranking sobre as estudantes (as mais belas e as mais feias) de Harvard (a mais importante Universidade do mundo). Eles sabiam o que estavam criando, só não sabiam as consequências. Ou seja, o muito do lixo que existe hoje, no Face, quando falamos no caso do Brasil, não é tão diferente do Americano. Talvez tenhamos exportado toda uma carga dess lixo ou deixamos que nos inundem com tantas futilidades.

A dependência às redes sociais pode ser prejudicial, pois sabe-se que fica mais fácil falar e expor, seja lá qual for o assunto do dia, para tudo e para todos, mesmo não sabendo de nada. Sigmund Bowman, um dos mais importantes sociólogos da atualidade atenta para o risco, diz ele, do “strip-tease social”. Mas o grande barato é que a informação, hoje, foi democratizada. O problema agora é a qualidade dessa informação. E a qualidade das amizades; quem são nossos amigos de verdade? Como manter uma amizade sem nunca ter tocado, visto (cara a cara), sentido, cheirado, abraçado o Outro (nossos amigos virtuais). Como somos mestres em nos adaptarmos, com certeza saberemos contornar alguns desses questionamentos. Só espero que não esqueçamos onde buscar as verdadeiras amizades, como dizia Saint-Exupéry:
As pessoas grandes adoram os números. Quando a gente lhes fala de um amigo novo, as Pessoas Grandes jamais se interessam em saber como realmente ele é. Não perguntam nunca: “Qual é o som da sua voz? Quais os brinquedos que preferem? Será que ele coleciona borboletas?” Mas perguntam: “Qual a sua idade? Quantos irmãos ele tem? Quanto pesa? Quanto ganha seu pai?” Somente assim é que elas julgam conhece-lo. “Os homens não tem mais tempo de conhecer coisa alguma. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não tem mais amigos. Se tu queres um amigo, cativa-me.” (O Pequeno Príncipe, pág. 19)

Tenho amigos maravilhosos, que me fizeram olhar para o que mais importa, amigos que estiveram comigo em grandes eventos. Que me carregaram nos braços para podermos estarmos juntos. Que me visitam, pois sabem que não posso visitá-los sempre que desejo estar junto deles. Em quem me espelhei para ouvir boas músicas, ler bons livros, assistir bons filmes e falar da vida, não da vida alheia, mas das nossas experiências, dos nossos desafios, da nossa Religião. Tudo isso ao vivo, com toques, sentimentos, cheiros, apertos, sorrisos, serviço, preocupações e amor. A minha Família, meu Pai, Minha Mãe e irmãos são todos meus amigos? E ainda há aquels amigos que nunca nos disseram aquela palavrinha mágica, tão em desuso atualmente, mas que na música do americano Louis Armstrong “What a Wonderful World”, ela aparece de forma maravilhosa e nos diz mais sobre o que os amigos realmente gostariam de dizer quando nos encontramos:
“Vejo amigos apertando as mãos, dizendo: "como você vai?"
“Eles realmente querem dizer: "eu te amo!"

Amo meus amigos e pretendo a oportunidade de fazê-lo, dizê-lo sempre... Feliz dia da Amizade!!!