“Povo que não conhece a sua história está condenado a repeti-la"

  • Redação
  • 25/04/2012 16:35
  • Edmilson Sá
Edmilson Sá
Eu, Eduardo Bueno e meu amigo Ibernon...
Eu, Eduardo Bueno e meu amigo Ibernon...

No último dia 17 de abril, no Show de Bob Dylan, em Brasília, depois conhecer e conversar com o Jornalista, Escritor e Historiador Eduardo Bueno (que ficou conhecido quando da preparação das comemorações pelos quinhentos anos do descobrimento do Brasil, publicou cinco livros sobre História do Brasil voltada para leigos, a Coleção Terra Brasilis: A Viagem do Descobrimento (1998); Náufragos, Traficantes e Degredados (1998); Capitães do Brasil (1999); A Coroa, a Cruz e a Espada (2006); A França Antártica (2007)). Numa das muitas conversas que tivemos eu lhe fiz uma pergunta retórica: Eduardo, de historiador para historiador, "Por que precisamos estudar História?"... A resposta foi um barato... De escândalos de "cachoeira" à cascatas e desvios, a responsabilidade é nossa!!! Assistam ao vídeo: http://www.youtube.com/watch?v=88pG2m6N9RY

Nesta mesma linha de pensamento, o historiador inglês Eric Hobsbawm evidencia que os acontecimentos públicos fazem parte de nossas vidas, mesmo quando não os vivenciamos. Não entendermos esse processo é o mesmo que incorrermos naquilo a que o próprio Hobsbawm denomina como destruição do passado “ou melhor, dos mecanismos sociais que vinculam nossa experiência pessoal à das gerações passadas”. Para o historiador:

Quase todos os jovens de hoje crescem numa espécie de presente contínuo, sem qualquer relação orgânica com o passado público da época em que vivem. Por isso os historiadores, cujo ofício é lembrar o que os outros esquecem, tornam-se mais importantes... Por esse mesmo motivo, porém, eles têm de ser mais que simples cronistas, memorialistas e compiladores. (...) Os acontecimentos públicos são parte da textura de nossas vidas. Eles não são apenas marcos em nossas vidas privadas, mas aquilo que formou nossas vidas, tanto privadas como públicas.

O filósofo estadunidense Marshall Berman em seu livro "Tudo que é Sólido Desmancha no Ar: a aventura da modernidade", diz o seguinte sobre o nosso tempo:

O mundo da via expressa, o meio ambiente moderno que surgiu após a Segunda Guerra Mundial, atingiria o pináculo de poder e autoconfiança nos anos 60(...)
Os fomentadores e adeptos do mundo da via expressa o apresentavam como o único mundo moderno possível: opor-se a eles e a suas obras era opor-se à própria modernidade, fugir à história e ao progresso, tornar-se um ludita, um escapista, um ser temeroso da vida e da aventura, da transformação e do crescimento. Essa estratégia pareceu eficaz porque, na realidade, a vasta maioria dos homens e das mulheres modernos não pretende resistir à modernidade: eles sentem a sua excitação e creem na sua promessa, mesmo quando se veem em seu caminho.

Uma relação orgânica com o passado público de nossas vidas está fora de cogitação, enquanto nossa sociedade e, principalmente nossos jovens, vivem num perene "presente contínuo"... A Modernidade tinha e tem suas exigências e as pessoas só a seguiam e seguem, nada mais. A Modernidade era e é necessária, ou melhor, se impõe como necessária, uma vez que os anseios e pretensões, também, exigiam e exigem tal afirmação. Dessa forma, percebemos que nessa sociedade em que vivemos muito mais importa "esse presente contínuo e o consumismo" o mundo da via expressa - do que o mundo concreto, real. Fugir ao progresso, dizem eles? “Nem pensar”! Quanto mais o "novo" se apresenta mais e mais mudanças exige para a sociedade, mesmo que estas mudanças não passassem de uma fantasia estúpida e irrealizável... Mas que, de tão bombardeada, nas mídias de comunicação, ela toma as formas mais belas e desejáveis, tornando-se impossíveis de resistir (pelo menos e infelizmente, para a grande massa de nosso país).
Por isso mesmo o chavão é ainda tão oportuno: “POVO QUE NÃO CONHECE A SUA HISTÓRIA ESTÁ CONDENADO A REPETI-LA”.
Então, para que estudar História? Como disse outro grande pensador, Paulo Freire: PRECISAMOS APRENDER HISTÓRIA PARA PODER FAZÊ-LA E DEPOIS, POR ELA, SERMOS FEITOS...

Citações Bibliográficas:
[1] HOBSBAWM, Eric. Era dos Extremos: o breve século XX: 1914-1991. 2ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2008. p. 14.
[2] BERMAN, Marshall. Tudo que é Sólido Desmancha no Ar: a aventura da modernidade. São Paulo. Companhia das Letras. 1986.p. 296-297.